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Entrevista da 2ª - Joe Biden

Queremos reconstruir a confiança com o Brasil

Com as relações Brasil-EUA ainda abaladas pela espionagem, vice-presidente americano chega ao país e diz que ideologias não podem atrapalhar relacionamento com a América Latina

RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON

Em jantar no mês passado com correspondentes estrangeiros no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma Rousseff chamou o vice-presidente americano, Joe Biden, de "um sedutor". "Nós ainda não nos casamos, mas estamos namorando", disse, segundo relato da BBC.

Em entrevista exclusiva à Folha, Biden, 71, que chega nesta segunda-feira (16) ao Brasil, diz acreditar "nos benefícios de tratar cara a cara nossas mais importantes relações".

Ele irá nesta segunda à estreia dos Estados Unidos na Copa do Mundo, em Natal, e nesta terça (17) se encontrará com Dilma e com o vice Michel Temer, em Brasília.

Espécie de enviado especial para a América Latina do governo Obama, o "sedutor" foi escalado para tentar melhorar as relações entre os dois países, afetadas pela divulgação da espionagem americana no ano passado.

Sobre a difícil relação dos EUA com países governados pela esquerda na região, Biden diz que a Casa Branca faz "um esforço concentrado para melhorar nosso relacionamento com os governos da região além do âmbito ideológico".

Ele respondeu às perguntas da Folha por escrito --a tradução ao português foi feita pelo governo americano.

Folha - O senhor acha que a presidente Dilma Rousseff será recebida com um Jantar de Estado em Washington, depois do adiamento da visita no ano passado?
Joe Biden - O presidente e eu aguardamos a oportunidade de receber a presidente Rousseff outra vez em Washington. O Brasil é um importante parceiro e ator global, e o convite do presidente Obama à presidente Rousseff reflete a importância que damos à relação bilateral.
Isso também é parte do motivo pelo qual estou viajando ao Brasil.
Claro que em Natal torcerei pela seleção norte-americana no jogo contra Gana. Depois do jogo, irei a Brasília me encontrar com a presidente Rousseff e com o vice-presidente Temer, porque acredito nos benefícios de tratar das nossas mais importantes relações cara a cara e com o maior respeito.
Quando falei ao telefone com a presidente Rousseff, no dia 8 de maio, deixei claro que o presidente Obama e eu estamos comprometidos em avançar a relação bilateral com o Brasil. Queremos trabalhar na direção de uma parceria na qual a realidade reflita as promessas em todas as questões, de energia à educação, de comércio à ciência e tecnologia.
O comércio entre os países é de cerca de US$ 100 bilhões por ano. Continuamos engajados em diálogos ativos para avançar em áreas concretas de cooperação. Mas o céu é o limite e há muito mais que podemos fazer juntos.

O senhor disse recentemente que "nossa luta com a antiga União Soviética algumas vezes nos deixou do lado de líderes que não compartilham nossos valores". E disse também que os Estados Unidos "acabaram do lado certo da história." Mas, para muita gente, os Estados Unidos não conseguem trabalhar bem com governos de esquerda eleitos democraticamente na América Latina. Como mudar isso?
Você está se referindo à entrevista dada em março no Chile, quando pedi ao governo da Venezuela que protegesse as liberdades fundamentais e se engajasse em um diálogo com a oposição.
Todos os governos eleitos democraticamente, tanto os de esquerda quanto os de direita, têm a responsabilidade de defender e respeitar esses direitos, que incluem liberdade de expressão e de associação.
Desde o início do governo Obama, fizemos um esforço concentrado para melhorar nosso relacionamento com os governos da região além do âmbito ideológico. Nosso objetivo é fomentar uma agenda positiva baseada na promoção dos interesses comuns e no enfrentamento de desafios compartilhados.
Ao mesmo tempo, o continente está passando por desafios como consolidação democrática, e a Venezuela é um caso emblemático de enfraquecimento das instituições democráticas.
Tive encontros com a maioria dos líderes deste continente e me inspirei em suas histórias pessoais. Homens e mulheres que sofreram na ditadura e agora são líderes de algumas das sociedades mais vibrantes e inclusivas da região. Eles entendem a importância de se manter uma posição equilibrada e apoiar instituições democráticas sólidas para preservar os direitos de todos.

Falando de livre comercio entre Brasil e EUA, a Aliança do Pacífico vai isolar o Brasil? Há possibilidade de levar a discussão dos subsídios à agricultura americana à mesa de negociação?
O maior desafio e oportunidade na relação é como nossos dois países podem construir uma parceria abrangente do século 21.
As questões que definem a relação bilateral são cada vez mais globais em sua natureza, como segurança alimentar e energética, mudança climática, não proliferação e guerra contra o terrorismo.
Compartilhamos interesses comuns em tratar desses desafios.
À medida que o Brasil continua a emergir como ator global, é provável que nossos interesses convirjam mais e mais à medida que trabalhamos juntos para construir estruturas internacionais que promovam prosperidade, segurança e bem-estar de nossos cidadãos.
A principal força de nossa relação são as crescentes conexões entre nossos povos e empresas.
Até o fim do ano, os Estados Unidos terão recebido mais de 26 mil estudantes em mais de 200 universidades norte-americanas. Os investimentos brasileiros diretos nos Estados Unidos estão em vias de igualar os investimentos dos Estados Unidos no Brasil e a aquisição de marcas americanas líderes como Anheuser-Busch, Burger King, e Pilgrim's Pride por brasileiros está redesenhando como o povo americano entende a presença do Brasil em nossa economia.
Do lado dos Estados Unidos, empresas como Ford e General Motors estão no Brasil há tanto tempo que muitos brasileiros acham que são empresas nacionais.
O Brasil não pode e não deveria ser isolado --isso iria contra nossos interesses nacionais, assim como contra os interesses do resto dos países do continente.

A relação Brasil-EUA esfriou por causa das revelações sobre a Agência Nacional de Segurança (NSA). Qual será sua mensagem à presidente Rousseff no encontro que terão?
Reconhecemos que revelações não autorizadas sobre programas de inteligência dos Estados Unidos geraram preocupações em governos do mundo todo, incluindo o governo e o povo brasileiro.
É por isso que em janeiro o presidente Obama fez um discurso anunciando importantes mudanças, como estender muitas das proteções à privacidade que damos a nossos cidadãos a cidadãos estrangeiros e a decisão de não monitorar a comunicação de chefes de Estado e de governo de nossos aliados e amigos próximos.
Como o presidente disse, pessoas do mundo todo, independentemente de sua nacionalidade, devem saber que os Estados Unidos levam suas preocupações com privacidade em conta.
Desde o anúncio do presidente, eu e a equipe de Segurança Nacional do presidente temos estado em contato com autoridades brasileiras para encontrar maneiras de aprofundar nossa cooperação e reconstruir a confiança de agora em diante.

Milhões de brasileiros visitam os Estados Unidos todos os anos e muitos acham que o Brasil deveria entrar para o programa de isenção de vistos, como fez o Chile recentemente. O que falta para isso acontecer?
O Brasil é atualmente o terceiro país do mundo com o maior número de vistos de não imigrante, atrás do México e da China.
Mais de 2 milhões de brasileiros que visitaram os Estados Unidos em 2013 e os milhões que pretendemos receber neste ano e nos próximos são uma importante parte das economias locais em lugares como Flórida, Nova York e Nevada.
Em 2012, o presidente Obama prometeu que facilitaria o máximo que pudesse a viagem de brasileiros aos Estados Unidos. No mesmo ano, iniciamos um diálogo com autoridades brasileiras sobre o Programa de Isenção de Vistos.
Além disso, nós dobramos o número de cônsules do setor de vistos no Brasil, eliminamos entrevistas para solicitantes com menos de 16 e mais de 66 anos e em breve abriremos dois novos consulados, em Porto Alegre e em Belo Horizonte.
Em 2011, um brasileiro levava em média cem dias para agendar uma entrevista. Agora, agendar uma entrevista leva apenas dois.


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