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Janio de Freitas

Falta de caráter

A buscada conveniência passa agora a justificar a aliança com os adversários por tudo e de sempre

As transações eleitorais dos últimos dias são um grande passo a mais na imoralidade da política brasileira. As associações das principais candidaturas com partidos secundários e sem mais afinidade do que a conveniência, nunca por semelhança programática ou por um objetivo maior, vinham constituindo a característica do processo eleitoral (e, em seguida, dos próprios governos). Nem esta modalidade degradada de ação política serve mais.

A buscada conveniência passa agora a justificar a aliança com os adversários por tudo e de sempre. Que, no entanto, continuam a ser dados como adversários quando e onde assim convenha. E, onde e quando a aliança com o adversário de sempre possa impor o seu cinismo, pouco importa que aí esteja uma traição explícita aos respectivos partidos e seus candidatos ao Congresso e às Assembleias.

Nesse avanço da falta de escrúpulos, o PT do Rio, por intermédio do candidato Lindbergh Farias, faz um acordo com Eduardo Campos que o compromete no apoio ao candidato do PSB, mas com a função partidária e oficial de apoiar Dilma Rousseff como candidata petista.

O Eduardo Campos e o PSB dessa aliança com o PT do Rio acasalam-se em São Paulo com o PSDB, que não é apenas o adversário fundamental do PT: é o partido do candidato Aécio Neves, que concorre contra Eduardo Campos pela conquista da Presidência e, para isso, com ele disputa o eleitorado de oposição a Dilma Rousseff. Com a aliança paulista, o PSDB joga a favor do seu candidato e a favor do candidato que o enfrenta pelo PSB.

O PMDB do Rio tem compromisso formal de aliança com o PT e, portanto, de apoio a Dilma Rousseff, a ponto de dar o candidato a vice na chapa petista. Mas fecha um acordo com o PSDB de Aécio Neves, em permuta de apoio ao candidato peemedebista ao governo fluminense, Luiz Fernando Pezão.

Candidatos amorfos, candida- turas sem caráter, traição para todos os lados.

LÁ E CÁ

Sempre atento a aspectos poucos considerados da imprensa estrangeira, Nelson de Sá observou que em três dias já estava revertida a previsão externa de que a Copa seria uma catástrofe para o Brasil. Há um ensinamento nessa reversão: quem não acredita na imprensa internacional, e veio ao Brasil, está vendo bons jogos e se divertindo muito. Como não só de Copa se faz a imprensa internacional, cada um deduza o que quiser.

Mas é também irresistível a pergunta: e quanto à imprensa brasileira e suas expectativas para a realização da Copa?

FRONTEIRAS

A associação internacional Repórteres sem Fronteiras surgiu com propósitos acima de políticas e de ideologias. Nessa linha, realizou importantes trabalhos em defesa de jornalistas e do exercício do jornalismo.

Sua atual atenção recente para a América do Sul tem suscitado algumas curiosidades. Agora mesmo, a respeito de críticas fortes do vice-presidente do PT, Alberto Cantalice, a jornalistas antipetis-tas, Repórteres Sem Fronteiras refere-se à "tensão entre governo e jornalistas da oposição". Onde e como seria isso?

Alberto Cantalice não integra o governo. Ainda que um só integrante fosse dado como "o governo", o que não é raro no jornalismo brasileiro, Cantalice não atenderia a tal papel. Quando muito, fala por seu partido. O PT, do qual é dirigente, não fala pelo governo. E, salvo indesculpável desaten- ção minha, nenhum fato atesta "tensão entre governo e jornalis- tas da oposição".

O nível de liberdade de imprensa no Brasil das últimas décadas não precisa ter nem a mais sutil inveja da liberdade em qualquer país. Temos, sim, repórteres e comentaristas com fronteiras entre si, sejam filosóficas, sejam éticas, sejam outras. Isso atesta a plena liberdade de imprensa. E nos dispensa de fingir que não temos fronteiras.


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