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Ricardo Melo

Chame o ladrão

Num Estado em que maca é contabilizada como vaga em prisão, é preciso encarar indicadores com um pé atrás

Declarações sinceras de políticos ou governantes, muitas vezes, costumam dar pistas: o sujeito está deixando o cargo e resolveu falar a verdade; ou então trata-se de confissão de incompetência.

Ainda é cedo para saber onde encaixar afirmações como a do secretário da Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, diante da escalada de roubos no Estado. As palavras chegam a ser desconcertantes. "Estou estudando. Dentro de uma ou duas semanas a gente vai ter alguma conclusão a respeito [...]. Não adianta dizer que é isso ou aquilo, porque isso é achismo'. Precisamos nos debruçar, estudar, fazer o diagnóstico."

Enquanto o secretário se debruça, São Paulo vive uma epidemia de criminalidade. Segundo manchete desta Folha, o número de roubos cresceu em 11 das 12 macrorregiões do Estado entre janeiro e maio, na comparação com o ano passado. A capital liderou a alta: 42%. O mais alarmante é uma das explicações oficiais. Diz que o índice disparou porque agora é possível registrar ocorrências pela internet. A acreditar na tese, é provável que nos últimos anos o volume de roubos tenha sido artificialmente rebaixado por falta de notificações das vítimas. O que, vamos e venhamos, só piora o cenário.

Num Estado em que macas em enfermaria são contabilizadas como vagas em presídio e apenas um em cada dez casos de roubo motivam um inquérito, o bom senso recomenda encarar indicadores com um pé atrás. Tanto para o bem, quanto para o mal.

Aqui vai um exemplo. O governo tucano não desperdiça chances de comemorar a pretensa queda de homicídios. Ótimo se fosse assim mesmo. Digo mais: todos torcemos para isso. Então surge a dúvida: até que ponto tais números não são obra da "contabilidade criativa" que o governador critica na esfera federal, mas que ele mesmo pratica nos dados que distribui à imprensa? Tomando emprestado o repertório da meteorologia, por mais que o governo paulista festeje dados sobre a queda do número de mortes, a "sensação térmica" de insegurança no Estado é muito pior do que imagina o pessoal do Bandeirantes. Basta ouvir as ruas e prestar atenção ao próprio noticiário.

Até hoje, as autoridades paulistas não deram uma explicação convincente ao papel exercido por facções como o PCC no comando da criminalidade, mesmo seus líderes estando formalmente na cadeia. Tampouco sabe-se de medidas eficazes para coibir delitos; assiste-se apenas a operações espalhafatosas para ganhar espaço em telejornais. Quando não é assim, parte-se para práticas do Velho Oeste: oferecer recompensas para quem denunciar malfeitores. A valorização da função policial, sobretudo a preventiva, esgota-se em discursos e promessas nunca cumpridas. Tudo isso sem falar no péssimo exemplo da complacência com a corrupção e com os larápios incrustados no aparelho do Estado.

Sem atacar esses males, continuaremos apenas a ouvir lamúrias e perder a carteira, quando não conhecidos e familiares.

SERVIÇO PELA METADE

A Prefeitura de São Paulo informou que fiscais da máfia do ISS foram finalmente demitidos, oito meses depois de descobertos. Antes tarde do que nunca.

Mas o que a prefeitura, Ministério Público e Justiça têm a falar sobre as incorporadoras, empreiteiras e construtoras que ganharam uma bolada subornando servidores? O que aconteceu com elas? E os políticos que fizeram vistas grossas diante da roubalheira? Qualquer um que teve acesso ao escândalo viu, no papel, listas detalhadas com o nome dos grupos corruptores, valores que deveriam ser pagos e os que foram efetivamente depositados para os gatunos à custa do contribuinte paulistano. Muita gente pertence à sobrenomecracia. Está aí a explicação para o silêncio?


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