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Ricardo Melo

Israel é aberração; os judeus, não

Na região, é preferível lutar pela utopia de um Estado único do que ver o flagelo permanente sem esperança

Inexiste solução para a crise do Oriente Médio que não inclua o fim do Estado de Israel. A afirmação é comprovada pela própria história. Desde que foi criado, Israel tem sido protagonista de algumas das maiores atrocidades de que se tem notícia. Não por acaso. Ele está lá para isso.

Israel foi concebido no rearranjo entre as grandes potências que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. É uma obra artificial, construída desde o início com mortes, expulsões, humilhações e convulsões. Os palestinos desalojados e tratados como cidadãos de segunda classe nunca deixaram de lutar contra a opressão. Batalha inglória. Tratou-se sempre, como atualmente, de um combate contra interesses muito maiores do que a extensão geográfica da região faz supor.

Sem o apoio político e material americano, Israel não duraria duas semanas. Só isso explica os anos e anos de conflitos anunciados e não resolvidos. Para a Casa Branca e seus aliados, a existência de Israel como um gendarme armado até os dentes é peça fundamental no jogo político de uma região estratégica e rica em recursos naturais, mas difícil de manter sob controle sem a manu militari de um regimento em prontidão indefinida.

Os habitantes de Gaza, por exemplo, vivem em condições semelhantes às de um depósito de corpos. Faltam medicamentos essenciais, o consumo de água é limitado a 80 litros por pessoa/dia (o padrão da OMS é de no mínimo 100 litros/dia). Energia elétrica? No máximo 12 horas a cada 24 horas. A ONU, central da hipocrisia diplomática internacional, limita-se a condenações protocolares. Detalhe: sempre com o voto contrário dos Estados Unidos, como agora. Vamos falar sério: a favor de quem trabalha um organismo que vê um conflito deste tamanho durar quase 70 anos e não consegue adotar nenhuma resolução efetiva?

Não custa lembrar: neste período, o capital financeiro, tendo Washington à frente e aliados stalinistas como suporte, pintou e bordou no desrespeito a convenções internacionais. Conflito do Vietnã, invasão do Panamá, República Dominicana, esmagamento da Primavera de Praga, guerra do Afeganistão, Operação Condor _exemplos não faltam. Vale lembrar a invasão do Iraque como atestado de óbito, entre tantos outros, deste parlatório internacional sediado em Nova York. EUA e Grã-Bretanha providenciaram um pretexto jamais provado ""a proliferação de armas químicas- para deixar o país numa situação ainda mais conturbada do que no tempo da ditadura sanguinária de Saddam Hussein.

O cenário é pessimista? Óbvio que sim. A sucessão de conflitos no Oriente Médio só tende a dificultar uma saída pacífica, mantidas as regras do sistema vigente. A cada novo cadáver, cresce o ódio na região. A saída civilizada seria a construção de um Estado único onde árabes e judeus convivam em harmonia. Utopia? Sim. Mas é preferível apostar nela, lutar por ela, do que assistir ao flagelo permanente sem esperança.

A ÉTICA QUADRÚPEDE

Da janela de meu apartamento (alugado), na fronteira de um shopping de São Paulo, Higienópolis, vejo famílias dormindo nas esquinas "protegidas" por caixas de papelão e páginas de jornal. É pleno inverno. Eis que, na manhã seguinte, ao ler as notícias do dia, sou informado de que um decorador badalado demitiu sua empregada. "Mandei embora a funcionária que colocou uma manta de cashmere na máquina". De quem era a manta? De uma cadela chamada China. A descrição do drama vale por um roteiro: "Aconteceu um desastre. A empregada colocou a manta Louis Vuitton na máquina de lavar. Virou um capacho". Salve-se quem puder.


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