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Elio Gaspari

As universidades estão fora da agenda

Os candidatos a presidente e aos governos de SP e do RJ repetem platitudes e fingem não olhar para o desastre

Em janeiro passado, o governo federal fechou a maior faculdade de medicina do país, a Gama Filho. Era uma catedral de mutretas, mas tinha 2.400 alunos que pagavam regularmente suas mensalidades e foram mandados para o inferno burocrático das transferências. Em abril, o reitor da Universidade de São Paulo, a maior e melhor do país, anunciou que em dois anos a instituição poderá esgotar suas reservas financeiras, pois em 24 meses comeu R$ 1,3 bilhão de um caixa de R$ 3,6 bilhões. Claro, os doutores gastam 105% do orçamento de R$ 4,5 bilhões para pagar a folha de pagamento. Até 2012 o atual reitor, Marco Antonio Zago, e seu antecessor, João Grandino Rodas, ganhavam acima do teto legal de R$ 18 mil mensais. Um, R$ 24 mil. O outro, R$ 23 mil.

Esses assuntos estão fora dos palanques. Se coisa parecida estivesse acontecendo no Uzbequistão, alguém estaria reclamando. Nos dois casos, a ruína foi construída ao longo dos anos. A fiscalização do Ministério da Educação sabia que a Gama Filho acabaria explodindo. Os doutores da USP sabiam que estavam arruinando as contas da Casa. Em janeiro de 2013, ela já gastava 93% do orçamento com a folha. Em julho passado, a conta chegou a 105%. Nas duas outras universidades do Estado, a Unicamp e a Unesp, a situação é parecida. Não se pode dizer que o governo de São Paulo lhes nega dinheiro, pois suas receitas estão fixadas na Constituição: para elas vai 9,57% da arrecadação do imposto de circulação de mercadorias que fica para o Estado. Num cálculo grosseiro, quem compra uma mercadoria de R$ 1.000 pinga uns R$ 13 na USP, Unesp e Unicamp.

Esse dispositivo sustenta a autonomia financeira das universidades, mas elas detonaram suas autonomias contábeis. Como o dinheiro é público, a cada estouro os hierarcas falam em austeridade, prometem cortes e obtêm greves. Há departamentos da USP nos quais, em 13 anos, aconteceram 12 greves. No ano passado, a reitoria esteve invadida durante 42 dias. As últimas greves parciais de USP, Unicamp e Unesp duraram mais de 70 dias. Na Unesp de Araraquara, 136 dias, sempre com a expectativa do pagamento dos dias parados. Se os recursos aumentam, a ciranda recomeça com mais expansões, contratações e gestão temerária.

No debate dessa questão superpõem-se conflituosamente diferentes visões da universidade. Admita-se que todos têm razão, ainda assim a aritmética prevalece. Briga-se por qualquer coisa. A família do banqueiro Pedro Conde deu R$ 1 milhão à Faculdade de Direito para a construção de um auditório que levaria seu nome. Envolvida em picuinhas e paixões políticas, a doação virou um litígio judicial. Bilionários brasileiros já deram mais de 100 milhões de dólares para universidades americanas, nenhum passou por esse tipo de constrangimento.

Panelinhas, inépcias e esbanjamentos fazem parte do cotidiano de todas as universidades do mundo. Elas se diferenciam na extensão dos danos que causam às instituições e na rede de cumplicidades e/ou tolerâncias em que se amparam. Uma piada preconceituosa contra mulheres disparou um processo que acabou no defenestramento do presidente de Harvard, em 2006. De lá para cá, pelo menos seis reitores foram mandados para casa.

DILMA

A doutora Dilma pisou no freio e pediu que o projeto PLS 559 fosse retirado da pauta de votação do Senado para que o Planalto estudasse e discutisse melhor o caso.

Ele praticamente revoga a lei das licitações em vigor e cria diversas gracinhas ao gosto de todos, das empreiteiras que fazem hidrelétricas federais aos fornecedores de papel higiênico municipal. Acredita-se que ele voltará à pauta do Senado daqui a uns 30 dias. No crepúsculo dos mandatos, setembro será o grande mês da safra arrecadatória dos candidatos.

A melhor das gracinhas era uma emenda segundo a qual uma empresa ganhava a licitação para construir um aeroporto, ou seja lá o que for, e levava junto o direito de administrar o shopping e os hotéis que estivessem no projeto.

BARBOSA NO TWITTER

Joaquim Barbosa saiu do Supremo Tribunal, mas foi para o Twitter. Tem 26 mil seguidores e já deu os primeiros tiros, prometendo continuar.

MADAME NATASHA

Natasha concedeu sua enésima bolsa de estudo à doutora Dilma pela revelação de que "há uma assimetria de informações entre nós, mortais, e o setor de petróleo".

O mundo do petróleo pode ser complicado, mas a doutora cria assimetrias de compreensão quando fala em dilmês.

HUMOR

Há prefeitos que colocam seus retratos nas páginas de suas administrações no Facebook.

Fernando Haddad inovou.

No dia 29 de julho, aparecia uma fotografia de um detalhe do prédio da prefeitura. Em primeiro plano, um poste.

ENFIM, O INÍCIO DA CAMPANHA

No próximo dia 19 começam o horário de propaganda gratuita na televisão e a campanha eleitoral a vera. Se Deus é brasileiro, os candidatos começarão a falar língua de gente. Por enquanto, falam em "reforma tributária". É uma lorota, porque só tem sentido se for detalhada. No mais, coisa tributária é assunto relacionado com tribos indígenas. "Centro da meta", numa hipótese bem educada, é a marca do pênalti. Além disso, há excesso de cerebrações em torno das pesquisas eleitorais. Desde maio, elas dizem mais ou menos a mesma coisa. A doutora, submetida a uma saudável contradita, arrisca ser levada a um segundo turno. Pesquisas têm seu valor, mas, divinizadas como se fossem o centro da questão, viram um blá-blá-blá dispersivo. Por exemplo: o que sua família fará no domingo? Resposta: na segunda, tínhamos 35% de vontade de ir para a praia; na sexta, ficamos com apenas 32%, dentro da margem de erro. E daí? Vale lembrar que nas velhas democracias as pesquisas são subsídios acessórios.

Grosso modo, um terço do eleitorado não vota em Dilma. Esse é o índice de rejeição do PT desde 2002. Aécio Neves e Eduardo Campos continuam fazendo campanhas destinadas a converter os crédulos. O crédulo dobra seu ódio ao PT, mas seu voto continua do mesmo tamanho.

Na televisão, Dilma entrará com o dobro do tempo dos seus dois adversários, os efeitos especiais de João Santana e, para o bem ou para o mal, 12 anos de poder.

Imaginando-se um casal -Waldemar e Mariluce- com os problemas e projetos de uma família com renda de três salários mínimos, o que é que Aécio e Campos vão botar na mesa? Quem souber, como diria Ancelmo Gois, mande cartas para a Redação.


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