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Janio de Freitas

Em busca do sonho

Ninguém duvidaria de que, se derrotado agora, Campos estaria na disputa presidencial seguinte

Eduardo Campos não era um político para agora. Entrou na disputa pela Presidência como um ressurgimento do Nordeste na política alta, e sairia como a promessa antecipada para a sucessão presidencial de 2018. Assim o seu presente se projetava condicionado, por um lado, pelas suas dificuldades financeiras e políticas para a disputa atual, e, por outro, pela apresentação que faria de si ao país, no horário eleitoral, carregando em sedutoras ideais reformistas.

Daí uma comparação interessante com Aécio Neves. Netos, ambos, de políticos notáveis; ambos ex-governadores, lançados no plano mais alto da geração que entra no jogo político nacional, Eduardo Campos e Aécio Neves ofereceram a impressão de futuros postos. O primeiro, como detentor da avidez política de quem irá em frente sempre e cada vez mais, não importando nem rebordosas como sua esmagadora derrota na disputa pela prefeitura de Recife. Aécio Neves, embora profissional da política, passando mais a imagem de diletante, com outras atrações satisfatórias na vida.

Ninguém duvidaria de que Eduardo Campos, se derrotado agora, estaria na disputa da sucessão presidencial seguinte. É muito duvidoso que alguém imagine igual disposição de Aécio Neves, aquele que se mostrou tão desinteressado de lutar com José Serra pela candidatura presidencial que, na última eleição, os chefões do partido lhe punham nas mãos.

Componentes da mesma diferença, já os modos de exercer os mandatos de governadores os mostraram divergentes. Para a condução do governo mineiro de Aécio Neves, Andréa Neves, a irmã, e Antonio Anastasia foram muito importantes, ela aplicando a sua vocação política, ele na parte administrativa. Eduardo Campos, à parte o acerto ou não das suas orientações e providências, mostrou um gosto ilimitado por estar ele próprio com os cordéis do governo, e movê-los sem dia e sem hora.

Eduardo Campos fez uma passagem discreta, delicada mesmo, do apoio a Dilma Rousseff para a oposição. Mas sua candidatura implicou, forçosamente, mais do que esta oposição concentrada. Era uma ruptura com Lula e com as concepções expressas nos três mandatos petistas. As quais Eduardo Campos apoiou por dez anos e meio. Desde que em 2003 integrou o primeiro governo Lula, como ministro da Ciência e Tecnologia que saiu bastante bem, até meados do ano passado, quando consolidou a decisão de candidatar-se à Presidência.

O direito da sua candidatura era inquestionável. Mas, para justificá-la, Eduardo Campos recorreu, sem necessidade, ora a tergiversações, ora ao argumento de que Dilma Rousseff não corrigira as falhas do governo Lula, o que levara ao seu afastamento. Falhas que nunca apontou nos oito anos do governo Lula, ao qual integrou e depois apoiou sem restrições. Insuficiência de Dilma Rousseff a que não se referiu, nem importaram, nos dois anos e meio em que foram aliados. Por mais que o argumento pudesse ser sustentado, e Eduardo Campos não cuidou de explicá-lo, as aparências do carreirismo político prevaleceram. Quando bastaria, no entanto, até com proveito extra, apenas dizer-se portador de um projeto próprio de governo e de país. A melhor justificativa para um candidato --e, ainda que compreensivelmente incompleta, Eduardo Campos a tinha.


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