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Bola de cristal 'furada'

Economistas voltam a errar projeções em 2011 no Brasil e no mundo; mesmo assim, elas são essenciais para guiar empresas e consumidores

MARIANA SCHREIBER
MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO

Em 2011, os economistas erraram. O mundo cresceu menos do que se esperava e a inflação foi mais alta do que o previsto no início do ano.

No Brasil, governo e analistas do mercado falavam em crescimento de até 5%, mas a expansão deve ficar em cerca de 3%. A inflação, em vez de cair em relação a 2010, subiu e exigiu medidas extras para desaquecer a economia.

Ao contrário do que parece à primeira vista, no entanto, 2011 não teve mais erros do que no passado.

Levantamento da Folha com as projeções do Boletim Focus (levantamento semanal do Banco Central com 90 bancos e instituições não financeiras) desde 2001 mostra que na maioria dos anos as estimativas de crescimento, inflação e taxa de juros falharam mais do que em 2011.

"Os erros são inevitáveis. A vida real é mais complexa do que os modelos matemáticos são capazes de prever", defende-se o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges,

Embora tenha errado algumas projeções, Borges foi um dos primeiros a prever que a economia ficaria estagnada no terceiro trimestre.

Ele explica que a maioria das consultorias e bancos trabalha com mais de uma projeção, mas só divulga aquela em que veem maior probabilidade. "Nossa projeção principal é de que o Brasil vai crescer 3,1% em 2012. Vemos 65% de chance de isso acontecer", afirma Borges.

"Mas, pode ocorrer uma crise como a de 2008, com quebradeiras de bancos na Europa, e o Brasil cresceria menos de 1%", ressalta ele.

O Boletim Focus é principal termômetro de expectativas e serve para o BC saber como pensa o "mercado".

As projeções são importantes para guiar empresas e consumidores em decisões de investimento e gastos. Mesmo que nem sempre estejam certas, reduzem as incertezas. E, ao longo do ano, vão mudando, de acordo com os novos acontecimentos.

No início do ano, havia um excesso de otimismo com relação a recuperação dos países desenvolvidos.

Mas o endividamento público na Europa se mostrou mais grave do que se previa. Nos EUA, o impasse político trouxe mais incerteza, exigiu cortes de gastos públicos e dificultou a recuperação.

A piora da crise externa coincidiu com o efeito das medidas do governo brasileiro para esfriar a economia. Analistas argumentam ainda que, em 2011, o governo usou ferramentas poucos usuais (como medidas de restrição ao crédito) para baixar a inflação. Por isso, foi difícil estimar seu real impacto.

"Poucos incorporaram os efeitos dessas medidas em suas projeções", diz Adriana Dupita, do Santander.

A desconfiança do "mercado" com as ações do governo também contribuiu para erros nas projeções. "Ninguém acreditava que o governo iria realmente segurar os gastos em 2011, mas de fato ele cortou", diz André Perfeito, da Gradual Corretora.

Muito criticado ao cortar a taxa de juros em agosto, o BC acabou sendo o primeiro a alertar, no Brasil, para a gravidade da crise europeia.

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