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Volkswagen espionou Lula durante ditadura
Documentos da Comissão da Verdade mostram como empresas ajudavam militares
Documentos reunidos pela Comissão Nacional da Verdade mostram que empresas como a multinacional alemã Volkswagen colaboraram com a ditadura (1964-85) ao repassar para órgãos da repressão informações sobre funcionários e reuniões de sindicalistas.
Um dos alvos da empresa, segundo reportagem da agência Reuters divulgada nesta sexta-feira (5), foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que no início dos anos 1980 despontava nacionalmente como líder sindical na região do ABC paulista.
A comissão vai apresentar em São Paulo, na próxima segunda, o resultado parcial de uma investigação sobre as empresas que colaboraram com os militares na ditadura.
Dezenas de companhias, nacionais e estrangeiras, ajudaram os órgãos da repressão denunciando trabalhadores engajados na resistência e repassando informações sobre a atuação deles, sobretudo nos sindicatos, entre o final dos anos 1970 e o início da década de 1980.
Um dos responsáveis pelo trabalho na Comissão Nacional da Verdade é o pesquisador Sebastião Neto, que levantou relatórios produzidos pelo extinto Conselho Comunitário de Segurança, que funcionava na região do Vale do Paraíba, em São Paulo, e era integrado pelas Forças Armadas, polícias civis e militares, além de representantes das empresas --eram pelo menos 19.
Um dos documentos encontrados diz respeito à Volkswagen e indica que a multinacional repassou dados de dezenas de reuniões sindicais, além de planos de trabalhadores sobre greves e reivindicações salariais. A empresa, segundo o documento, também forneceu informações de veículos utilizados nos atos sindicais.
A Volkswagen documentou para os militares um comício em junho de 1983 que contou com a presença de Lula, que nunca trabalhou na empresa, mas era à época um dos mais importantes líderes trabalhistas do país.
O futuro presidente é citado pela companhia alemã como um crítico à "pouca vergonha do governo" militar e por incentivar os trabalhadores a suspenderem, em protesto, o pagamento de prestações ao BNH (Banco Nacional da Habitação) pela compra de imóveis.
À agência Reuters, a empresa disse que vai investigar os indícios de que funcionários passaram informações aos militares. "A Volkswagen é reconhecida como um modelo por tratar seriamente a sua história corporativa. A empresa irá lidar com este assunto da mesma forma", afirma comunicado da empresa.