Petrobras aprofunda investigação interna
Sob pressão de órgãos de regulação do mercado, estatal contrata escritórios especializados em lei anticorrupção dos EUA
Empresa também pediu à Justiça para ouvir Paulo Roberto Costa sobre reuniões dele com outros executivos
A Petrobras contratou dois escritórios especializados em lei anticorrupção americana e no atendimento a investigados pela SEC (órgão regulador do mercado de capitais dos EUA) para investigar denúncias de corrupção derivadas da Operação Lava Jato.
Nos EUA, o escritório escolhido foi o Gibson, Dunn & Crutcher. No Brasil, a escolha foi o Trench, Rossi e Watanabe, de São Paulo. Eles vão colaborar com a comissão interna criada pela Petrobras para investigar o caso.
A firma americana é uma das principais do país em FCPA, sigla da lei dos EUA que prevê pesadas punições a empresas estrangeiras flagradas em atos de corrupção e que tem ações negociadas em bolsa de valores do país.
Já o advogado Bruno Maeda é o sócio do Trench especialista na lei americana.
Procurados, os escritórios não quiseram comentar.
A Petrobras decidiu aprofundar as investigações da comissão interna depois de ser pressionada pela PwC (PricewaterhouseCoopers), auditoria responsável por avaliar os balanços da Petrobras.
No dia 16 de outubro, representantes da PwC informaram à Petrobras que avançar na apuração "era absolutamente necessário" para atender às leis americanas do mercado de capitais. Caso a Petrobras não o fizesse, a PwC deixaria de auditar os resultados do terceiro trimestre, a serem divulgados em novembro, e comunicaria a omissão ao conselho de administração da empresa.
Se o conselho se calasse, o caso seria informado à SEC e a PwC deixaria o contrato.
A Petrobras também pediu à Justiça autorização para ouvir o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa em suas investigações internas sobre desvios nas refinarias Abreu e Lima (PE) e Comperj (RJ).
O pedido à Justiça é necessário porque Costa cumpre prisão domiciliar após ter feito delação premiada.
A empresa pediu que Costa esclarecesse, entre outras coisas, o teor de reuniões com o ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli e o ex-diretor de Serviços Renato Duque realizadas entre o fim de 2005 e o começo de 2006 sobre Abreu e Lima.
A Petrobras quer saber por que, às vésperas da implantação de Abreu e Lima, Costa foi com Gabrielli e Renato Duque a reunião em Brasília.
A estatal pede explicações sobre as revisões do valor da obra, que subiu de US$ 4 bilhões para US$ 13,4 bilhões entre 2006 e 2009.
Duque disse não ter participado de reunião em Brasília sobre o assunto. Gabrielli afirmou que várias reuniões ocorreram na época sobre Abreu e Lima.
A Petrobras também quer justificativa para liberação de adiantamento de R$ 200 milhões ao governo de Pernambuco em 2010, relativo a tarifas do porto de Suape (PE). À época, o Estado era governado por Eduardo Campos (PSB), que morreu em acidente aéreo em agosto passado.