Manifestantes buscam inspiração em direita americana
Jovens conservadores que participaram de ato contra a presidente Dilma pedem uma oposição mais ideológica
Eles usam a internet para convocar atos e trocar informações sobre autores de pensamento liberal
Assim como durante o surgimento do Tea Party, nos EUA, em 2009, brasileiros presentes no ato que levou 2.500 à avenida Paulista no sábado, dia 1º, pedem a organização de uma nova oposição, mais ideológica, no país.
Manifestantes ouvidos pela Folha dizem que, no curto prazo, suas prioridades são cobrar investigações sobre a presidente Dilma Rousseff e o escândalo da Petrobras e fazer a crítica ao aparelhamento do Estado pelo PT.
No longo prazo, citam o propósito de atrair mais eleitores ao pensamento conservador no campo social e à vertente liberal no econômico.
"Ser conservador é respeitar as tradições, levar em conta o conhecimento das gerações passadas, dar preferência ao testado perante o totalmente novo", afirma o economista e professor universitário Guilherme Stein, 28, que faz doutorado na FGV (Fundação Getúlio Vargas).
"Russell Kirk [filósofo americano, autor de "A Mentalidade Conservadora"] diz que o conservador prefere o mal conhecido ao desconhecido. Quando se joga tudo fora, o que vem depois costuma ser imprevisível e muito pior."
Ele cita outros autores que influenciaram o seu pensamento. Um deles é o economista americano Milton Friedman, que "mudou sua vida" ao oferecer uma explicação monetária para a crise de 1929, em oposição "à narrativa escolar que só busca atacar o livre mercado".
Outro é o austríaco Ludwig von Mises, para quem o sistema socialista nunca funcionará por falta de um sistema de preços, que impede a alocação eficiente da produção.
Stein e colegas que foram à manifestação têm forte atuação na internet. Um dos grupos mais ativos é o Reaçonaria. "O site está aí para contestar certezas estúpidas como a de que direita é sinônimo de militarismo ou ditadura", afirma o analista de sistemas Ângelo, que prefere não divulgar o sobrenome.
Tais sites, que replicam textos de autores como o filósofo Olavo de Carvalho e o colunista da Folha João Pereira Coutinho, são uma porta de introdução ao conservadorismo para muitos jovens.
Entre eles, estão os estudantes de direito Gabriel Cordeiro Martins de Oliveira, 18, e Gabriel Arruda, 19.
"Foi com textos de G. K.Chesterton que percebi que não há soluções mágicas e me tornei conservador. O raciocínio coletivista é falso, pois compra a premissa rousseauniana de que o homem é perfeito. Qualquer um percebe que não é", afirma Arruda.
Oliveira diz que a internet é útil porque na faculdade o clima é de doutrinação de esquerda. "Por lá, há pouquíssimas pessoas que concordam comigo", comenta.
Todos ressaltaram que os pedidos de intervenção militar no ato partiram de uma minoria. Eles divergem, porém, sobre o partido ou político que poderia ser sua voz.
"Embora ainda não tenhamos nossos Ted Cruz e Rand Paul [líderes do Tea Party], creio que o nome mais capaz de liderar seria Aécio Neves", diz Stein. "Jair Bolsonaro [deputado] faz uma útil oposição ao PT, mas não é de forma alguma alguém moderado."
Já Oliveira pensa que Bolsonaro e seu filho, presente no ato, são uma boa alternativa "ao discurso conciliador da oposição, de centro, que não dá em nada": "É muito positiva a presença de quem defende opiniões com vigor".
Arruda, por sua vez, diz que Bolsonaro "tem visão de direita, mas sem base teórica; e discordo, por exemplo, quando defende a pena de morte". Para ele, o protesto pode ter o bom resultado de empurrar o PSDB para uma posição mais conservadora.