Marta sai e provoca Dilma ao cobrar mudança na economia
Petista, que voltará ao Senado, comandava o Ministério da Cultura desde 2012
Despedida abrupta fez Casa Civil acionar demais ministros para pedir que colocassem seus cargos à disposição
A ministra Marta Suplicy (Cultura) deixou o governo nesta terça (11) entregando uma carta de demissão em que faz críticas à presidente Dilma Rousseff ao desejar que ela "seja iluminada" na escolha de uma nova equipe econômica "independente", que resgate a confiança e a credibilidade do governo.
Na avaliação de assessores presidenciais, Marta foi "desleal" ao entregar o cargo num momento em que a presidente está em viagem ao exterior e apontar um ponto frágil do governo com o intuito de se cacifar para seu projeto de disputar a Prefeitura de São Paulo nas eleições de 2016.
Segundo a Folha apurou, a ministra já havia apresentado seu pedido de demissão na semana passada, mas o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, pediu para segurar a exoneração.
Ele queria que todos os ministros entregassem seus cargos juntos, num gesto para deixar Dilma à vontade para remontar sua equipe. Com a saída abrupta de Marta, a Casa Civil acionou os demais integrantes do primeiro escalão nesta terça, pedindo que antecipassem o movimento. Dois haviam colocado o cargo à disposição até a noite.
O teor da carta de despedida de Marta reflete críticas que o ex-presidente Lula costuma fazer a Dilma no comando da política econômica.
Ele defende a escolha de um ministro da Fazenda com total respaldo do mercado e não esconde sua preferência por Henrique Meirelles, que comandou o Banco Central durante o seu governo.
No texto, Marta faz um balanço de sua gestão e diz: "Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo".
A ministra já tinha avisado Lula sobre seus planos de saída do governo e o ex-presidente apoiou a ideia para fortalecer o PT no Senado --ela tem mandato até 2019.
No entanto, sobre os projetos dela para as eleições municipais de 2016, Lula tem dito a aliados que não cogita lançar outro candidato que não Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo.
Pessoas próximas a Marta dizem que ela pode então deixar o PT a médio prazo para concorrer à sucessão na capital paulista por outra legenda.
Marta tomou posse na Cultura em setembro de 2012, no lugar de Ana de Hollanda. Já foi prefeita de São Paulo (2001 a 2004), deputada federal (1995 a 1998) e ministra do Turismo (2007 a 2008).
Sua substituta imediata na pasta é a secretária executiva Ana Cristina Wanzeler. Ainda não há nome para ser efetivado ao cargo de ministro.
Marta acumulou atritos com a presidente durante as eleições deste ano. Ela foi porta-voz do "Volta, Lula", movimento frustrado que tentou fazer o ex-presidente candidato ao Planalto no lugar de Dilma.
Durante carreata na zona sul de São Paulo, a então ministra se irritou ao saber que seu suplente no Senado, o vereador Antônio Carlos Rodrigues (PR-SP), era quem ocuparia seu lugar no caminhão reservado à presidente Dilma. Para Marta, estava reservada uma vaga em outro veículo.
A então ministra subiu no carro de Dilma mesmo assim. Antes, bateu boca com o presidente do PT, Rui Falcão.
Marta é a segunda a fazer críticas a Dilma nesta semana. Em entrevista à BBC, Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) afirmou que o diálogo da presidente com a sociedade foi falho no primeiro mandato.