Escândalo na Petrobras
Delator afirma que empreiteiras tinham 'clube da propina'
Segundo executivo que colabora com as investigações, Ricardo Pessoa, presidente da UTC, era o coordenador
Prisões de empresários devem dificultar um acordo que poderia reduzir as punições às empreiteiras
As prisões, nesta sexta-feira (14), de presidentes e executivos de algumas das principais empreiteiras do país revelaram novos detalhes sobre o modo como elas agiam para superfaturar contratos.
No decreto de prisão, o juiz Sergio Moro aponta que um lobista do PMDB, Fernando Soares, pagou US$ 8 milhões (R$ 21 milhões hoje) à diretoria internacional da Petrobras, segundo relato feito por Julio Camargo, executivo da empresa Toyo Setal que fez um acordo de delação premiada com os procuradores que atuam na Lava Jato.
O suborno foi pago, segundo o executivo, "na aquisição de sondas de perfuração".
Não fica claro qual funcionário da Petrobras teria recebido os recursos. Soares teve a sua prisão decretada, mas não foi localizado pela PF.
Outro executivo da Toyo que optou pela delação premiada, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto relatou que o cartel de empreiteiras era chamado de "clube" e tinha como "coordenador" Ricardo Pessoa, presidente da UTC.
"Era ele quem convocava os representantes das empresas para as reuniões, entregava as listas para Renato Duque e estabelecia contato direito com ele", disse Mendonça Neto.
Renato Duque, preso nesta sexta-feira (14) pela Polícia Federal, ocupou entre 2003 e 2012 o cargo de diretor de serviços da Petrobras.
Mendonça Neto disse que ele era o representante da empresa Toyo-SOG no "clube", que seria formado, segundo ele, por Odebrecht, UTC, Camargo Corrêa, Techint, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Promon e MPE.
Segundo o juiz, os depoimentos de Mendonça Neto e Julio Camargo "confirmaram a existência do cartel, da fraude às licitações da Petrobras, da lavagem de dinheiro" e "o pagamento de propinas a agente públicos".
Mendonça Neto disse que em um contrato para a empreiteira Toyo prestar serviços na Repar (Refinaria Presidente Getúlio Vargas), em Araucária (PR), "de forma e com negociações independentes, também foi exigido o pagamento de vantagem indevida pelo diretor Renato Duque".
Julio Camargo afirmou que também "atuou em favor" do Consórcio TUC, formado pelas empresas Toyo JP, UTC Engenharia e Construtora Norberto Odebrecht. O executivo disse que entre setembro e outubro de 2012, o consórcio buscou "a formalização de contrato junto à Petrobras" para a construção de uma unidade de hidrogênio do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).
Nesse momento, disse Camargo, "para que tal contrato fosse viabilizado, houve exigência de vantagem indevida" pelo então diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa e pelo então diretor de Serviços, Renato Duque, além do gerente executivo da área de engenharia da Petrobras, Pedro Barusco.
A Odebrecht diz que "nega ter feito qualquer tipo de pagamento para executivos ou políticos para obter contratos com a Petrobras".
As prisões dos executivos devem dificultar a realização de um acordo que poderia reduzir as punições às empreiteiras, segundo três advogados ouvidos pela Folha.
No acordo que está sendo discutido, elas pagariam multas que poderiam chegar a R$ 1 bilhão e aceitariam a acusação de cartel, mas não de outros crimes. As prisões, na opinião dos advogados, rompeu a unidade que havia entre as empreiteiras: os que estão presos tendem a aceitar acordos mais duros do que os soltos.