Escândalo na Petrobras
Ex-diretor diz que recebeu R$ 1,6 mi por consultoria
Ex-chefe de Serviços da estatal, Duque afirmou à PF que trabalhou para a UTC
Engenheiro reconheceu que se tornou amigo e 'criou uma empatia' pelo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto
O ex-diretor de Serviços e Engenharia da Petrobras Renato de Souza Duque, 59, disse à Polícia Federal em Curitiba que recebeu pelo menos R$ 1,6 milhão da empreiteira UTC Engenharia após deixar o cargo na estatal em abril de 2012. Ele negou, porém, que o valor seja referente à propina.
Duque, que foi preso na última sexta-feira (14), afirmou que a remuneração deveu-se a um serviço de consultoria. Ele disse ter auxiliado a UTC num processo para que a empresa se capacitasse para participar de um projeto de produção de energia. Duque também afirmou ter fechado um segundo contrato com a UTC, mas não informou o valor.
Conforme depoimentos anteriormente prestados por delatores na Lava Jato, a UTC Engenharia funcionava como a coordenadora de um "clube" de empreiteiras que fraudavam licitações e desviavam recursos da Petrobras.
O sócio-proprietário da UTC, Ricardo Ribeiro Pessoa, 63, disse à Polícia Federal ter feito dois pagamentos para Duque por trabalhos de consultoria: um de R$ 1,6 milhão e outro de R$ 600 mil, "salvo engano". Ele não informou a razão dos pagamentos.
Duque, acusado por dois delatores de ter cobrado e recebido propina no exterior em troca de contratos na petroleira, demonstrou hesitação quando indagado pela PF se mantinha no exterior uma offshore chamada "Drenos". Segundo os delatores, alguns dos pagamentos de propina beneficiaram essa empresa, que seria do ex-diretor.
À PF Duque negou ter recebido recursos ilegais no exterior mas, ao falar da offshore, disse que "não se recorda desse nome Drenos'".
O ex-diretor reconheceu que se tornou amigo e "criou uma empatia" com o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, com o qual "passou a manter encontros" por ser uma "pessoa agradável para o convívio".
Porém, negou ter orientado o executivo da Toyo Setal Augusto Ribeiro de Mendonça a procurar Vaccari "para tratar de doações eleitorais".
Certa vez, disse Duque, ele e Augusto viajaram à Ásia para "visitar estaleiros, ver o que poderia ser trazido para o Brasil, estaleiros estrangeiros para se associarem com empresas brasileiras".
Duque explicou que também manteve vários "encontros e jantares" em restaurantes do Rio e de São Paulo com o outro executivo da Toyo Setal, Júlio Camargo.
Em delação premiada, Camargo disse à PF que fez pagamentos a Duque no exterior. O ex-diretor disse, porém, que os encontros eram apenas "sociais".
HOMEM DE CONFIANÇA
Duque disse que o gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco, que trabalhava como seu subordinado, era "uma pessoa de confiança". Barusco já reconheceu em delação premiada ter recebido US$ 97 milhões no exterior, valor que prometeu devolver à União como parte do acordo.
Sobre a sua chegada à diretoria de Serviços e Engenharia da estatal, em 2003, Duque disse "não se recordar" quem foi o político que lhe indicou para o cargo, que ele deixou em abril de 2012.