Cúpula petista faz defesa de tesoureiro sob suspeita
Presidente do partido elogiou Vaccari, aplaudido em evento da legenda
Petista foi citado por delator como um dos operadores do esquema na Petrobras; sigla pede mudança no governo
Tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto fez nesta sexta (28) um discurso em sua defesa durante a reunião do diretório nacional do partido, em Fortaleza, e disse que todas as contribuições que recebeu para a sigla são legais.
"Nunca fiz nada de errado", afirmou, diante da plateia de dirigentes petistas.
Vaccari foi citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como um dos operadores do esquema de desvios da estatal investigado na Operação Lava Jato.
Após a fala do tesoureiro, o presidente do PT, Rui Falcão, fez breve discurso favorável a ele. Afirmou que "a maior defesa de Vaccari é a sua vida".
O dirigente petista pediu palmas em solidariedade ao tesoureiro e foi atendido.
Vaccari tem dito que é vítima de "injustiça". Para ele, "estão querendo transformar doações legais em ilegais".
No evento, o tesoureiro disse que a quebra de seu sigilo aprovada na CPI no Congresso é "ação midiática" e que isso já foi feito outras vezes, numa referência ao caso Bancoop. "Nunca acharam nada."
O tesoureiro é réu em um processo no qual é acusado de desviar dinheiro da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), quando era presidente.
Os recursos teriam ido para campanhas eleitorais. O petista reconhece má gestão na Bancoop, mas nega desvios e diz que seu trabalho foi sanear problemas deixados pela administração anterior.
Conforme revelou a Folha, em fevereiro Vaccari esteve numa empresa do doleiro Alberto Youssef, que confessou participar do esquema na Petrobras, dias antes das prisões da Lava Jato. Deixou o local após quatro minutos, mas até hoje não explicou a visita.
A PF apura ainda se investimentos feitos por fundos de pensão de estatais em empresas ligadas a Youssef foram negociados pelo tesoureiro.
Dois fundos, o Petros, dos empregados da Petrobras, e o Postalis, dos Correios, aplicaram R$ 73 milhões e perderam praticamente todo o investimento. Vaccari nega ter participado desses negócios.
Uma das principais bandeiras do PT para o segundo mandato de Dilma Rousseff, a reforma política também foi tema da fala do tesoureiro, que defendeu o financiamento público de campanha. Segundo petistas, a dependência da iniciativa privada abre janela para irregularidades.
RESOLUÇÃO
A cúpula do PT elaborou um documento em que pede mudanças no segundo mandato de Dilma e dedica só um de seus 29 parágrafos ao combate à corrupção. Os petistas prometem divulgar neste sábado (29) um outro texto dedicado apenas ao tema, caro ao partido desde o mensalão.
A corrente Mensagem ao Partido apresentou uma versão com teor mais duro, que foi revisado por Rui Falcão.
O texto proposto pela Mensagem, segunda maior corrente da sigla, pede a expulsão imediata de todos os petistas comprovadamente envolvidos com casos de corrupção.
Defende ainda o afastamento de delegados da Lava Jato que usaram redes sociais para elogiar Aécio Neves (PSDB) e criticar Dilma.
Petistas reclamam do que chamam de "instrumentalização" da PF. Dizem que há delegados querendo "pegar o PT a qualquer custo".
Na resolução política, a menção às denúncias na Petrobras aparece só na penúltima página. Nela, o PT afirma que esta eleição "foi a mais difícil já disputada".
O resumo de Falcão atenua a versão original apresentada pelo secretário-geral do PT, Geraldo Magela. Ele lamentava: "Saímos da situação de partido que mais tinha compromisso com o combate à corrupção para sermos o mais identificado com a corrupção, o que é injusto e inadequado".