Escândalo na Petrobras
Petrobras não tem condição de estimar desvios, diz Graça
Ausência do valor das perdas fez a empresa atrasar a divulgação de balanço
Presidente da estatal afirma não saber quando terá o resultado de todas as apurações sobre fraudes
A presidente da Petrobras, Graça Foster, disse nesta quarta-feira (17) que não terá condições de informar, no próximo balanço da empresa, uma estimativa segura do valor desviado pelo esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
Ela sinalizou ainda que as auditorias internas que apuram as fraudes podem levar "dois, três ou quatro anos" para serem concluídas.
"Não há a menor segurança de que em 45 dias, 90 dias, 180 dias, 365 dias, 700 dias, de que virão todas essas informações em sua plenitude, porque pode vir uma informação agora e depois, três ou quatro anos. Não sei como vai ser isso", disse a executiva, durante café da manhã de fim de ano com jornalistas.
Os valores desviados precisam ser descontados do total do patrimônio da empresa para serem apresentados no balanço contábil. Sem essas reduções, a PwC, auditoria externa, não poderá assiná-lo, como exige a lei para empresas que negociam ações na Bolsa.
A Petrobras prometeu apresentar um balanço não auditado no último dia 12, mas não conseguiu. O novo prazo é 30 de janeiro.
Investimentos feitos pela estatal nos últimos anos, como a construção das refinarias Abreu e Lima (PE) e o Comperj (RJ), por exemplo. embutiram pagamento de propinas, segundo investigações da Operação Lava Jato.
A executiva disse estar "ansiosa" à espera das revelações que o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco fez em delação premiada para usar as informações como subsídio às estimativas das fraudes.
A impossibilidade de a empresa apresentar um balanço no último dia 12 a levou a conversar "três vezes" com a presidente Dilma Rousseff (PT) sobre a hipótese de uma demissão coletiva da diretoria da empresa.
"A Petrobras é muito mais importante do que meu emprego. Minha motivação é não travar a assinatura do balanço, por conta da investigação. Hoje, estou aqui enquanto contar com a confiança da presidente e' ela entender que eu deva ficar. Quanto aos diretores, eu não conseguiria trabalhar sem eles", afirmou.
Graça também comentou a rotina na empresa depois de escritórios externos terem sido contratados para investigar a estatal, obedecendo a uma exigência da PwC.
Segundo ela, o grupo passou a conviver com "invasões" de suas salas para recolhimento de documentos e equipamentos. "Acho ótimo". "Eu preciso ser investigada. Nós precisamos ser investigados. Isso leva tempo."
Questionada sobre "como consegue permanecer ainda na empresa", Graça disse acreditar no projeto.
"Acredito no projeto que tocamos, do jeito que fazemos. Não é fácil para nós".
De acordo com ela, o ano ficará marcado na história da Petrobras. Ela afirmou ser alvo de olhares incômodos devido à Lava Jato e que "toda a empresa perde".
"Perde quando você está no avião e olham para você. Quando você vê a fúria e a tristeza [de investidores]. E são sentimentos dignos."
O episódio, diz, a "entristece e motiva". "Só tem uma coisa que me motiva mais do que a produção. É a Lava Lato. É acabar com esse descrédito."
Graça vê a possível saída das empresas denunciadas na Lava Jato do mercado como uma ameaça ao aumento da produção da empresa.
"É urgente que o governo se posicione. Precisamos das empresas, ou de licitações internacionais."
Segundo ela, em 30 dias uma empresa de seleção de executivos vai apresentar ao comando da estatal uma lista com três nomes do mercado para a nova diretoria de compliance' (controle interno).
O escolhido será incumbido de analisar se os processos da empresa atendem a normas internas e à lei.
Apesar da queda recente no preço do barril de petróleo, de US$ 110 para US$ 60, os diretores dizem que o pré-sal continua viável.