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Operação na cracolândia é 'desastrada', diz Haddad

Pré-candidatos do PSDB, Covas e Matarazzo saem em defesa de prisões

Atuação da polícia no centro de SP divide os principais concorrentes à prefeitura e esquenta a sucessão municipal

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

A operação da Polícia Militar na cracolândia abriu o primeiro embate público entre os principais pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo no ano da eleição municipal.

O ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), classificou a ação de "desastrada" e afirmou, em entrevista à Folha, que a repressão violenta a usuários de crack contradiz o discurso do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Os pré-candidatos tucanos saíram em defesa da atuação da PM, iniciada no dia 3. Eles acusaram os petistas de tentar "fazer politicagem com a tragédia" do crack, nas palavras do secretário estadual de Cultura, Andrea Matarazzo.

O tema promete dominar o debate eleitoral sobre a ação da prefeitura na segurança pública e as políticas para recuperar a região mais degradada do centro da cidade.

Após dez dias de silêncio, Haddad aceitou falar sobre o tema na sexta-feira. Disse que o Estado precisava intervir na região, mas criticou a forma como a ação tem sido executada e disse faltar oferta de tratamento aos dependentes.

"A operação foi desarticulada e em grande medida desastrada, por não botar a saúde pública acima da repressão", afirmou o ministro.

"É uma ação marcada pela repressão, o que contradiz o discurso oficial de que o problema seria tratado como questão de saúde pública."

O petista foi criticado em novembro, durante ação da PM na USP (Universidade de São Paulo), ao declarar que "não se pode tratar a USP como se fosse a cracolândia, nem a cracolândia como se fosse a USP". Ele diz que foi mal interpretado e que defende o tratamento de dependentes em ambos os locais.

VESPEIRO

Dois dos quatro pré-candidatos do PSDB exaltaram a operação da PM e disseram dar nota 9 à força-tarefa do Estado com a gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD).

"A ação é muito acertada. A população esperava que o Estado tomasse essa iniciativa na cracolândia", afirmou o secretário estadual de Meio Ambiente, Bruno Covas.

"Não é fácil mexer neste vespeiro, mas a PM tem que ser firme e enérgica."

Com gabinete na Estação Júlio Prestes, vizinha à cracolândia, Matarazzo disse observar da janela o uso disseminado do crack na região.

"Quem critica a ação não tem ideia ideia do que este lugar virou: um shopping de drogas a céu aberto. A polícia precisa cumprir seu papel."

O tucano atacou vereadores do PT que classificaram a ação de "higienista". A expressão também foi usada contra ele quando foi subprefeito da Sé, na breve gestão de José Serra (2005-06).

"O pessoal do PT faz politicagem com a tragédia dos outros. Duvido que alguém dissesse isso se tivesse um filho lá, arrastando seu cobertorzinho e fumando crack até morrer", criticou Matarazzo.

Os outros pré-candidatos do PSDB, José Aníbal e Ricardo Trípoli, elogiaram a operação da PM no Twitter.

Celso Russomanno (PRB) defendeu a presença da PM na região, mas atacou a política de segurança do Estado.

"A operação está errada. O consumo vai continuar e os usuários vão apenas se espalhar pela cidade. Estão trocando seis por meia dúzia."

O deputado Gabriel Chalita (PMDB), que se equilibra entre a amizade com Alckmin e a aliança com o governo federal, disse que "a ação rígida" com os usuários de crack "não resolve o problema".

"O fato de a polícia estar na cracolândia não é ruim, mas dispersar as pessoas é absolutamente desnecessário. Esta ação só vai transferi-las para outros lugares", disse.

Os concorrentes também se dividem sobre a política de internação compulsória. Covas, Matarazzo e Russomanno são a favor. Chalita endossa a ideia apenas para menores de idade, e Haddad é contra em todos os casos.

O vice-governador Guilherme Afif Domingos (PSD), lançado por Kassab, não deu entrevista. Ele alegou que não se considera pré-candidato.

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