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Novo mínimo beneficia mais a classe C

Estimativa feita por consultoria indica que famílias deste estrato de renda receberão R$ 48 bi graças a reajuste

Estudo afirma que as classes D e E devem absorver R$ 12,47 bi com o aumento do piso salarial do país

Alexandre Rezende/Folhapress
Fernando dos Santos, que conseguiu seu primeiro emprego
Fernando dos Santos, que conseguiu seu primeiro emprego

MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO

Cálculos da consultoria Datapopular indicam que os consumidores da classe C serão os principais beneficiários do aumento do salário mínimo, já em vigor.

Neste mês, o piso nacional foi reajustado em 14,13%, para R$ 622. Segundos a consultoria, isso representará um incremento de R$ 63,98 bilhões na economia.

A maior parte desse valor, R$ 48,3 bilhões, vai ser incorporada ao orçamento das famílias da classe C.

Segundo o coordenador do Datapopular, Renato Meirelles, isso deverá ocorrer porque muitos trabalhadores que têm emprego com carteira assinada e ganham um salário mínimo integram a chamada classe C.

Nas contas do Datapopular, famílias cuja renda doméstica somada é, em média, R$ 2.341 estão na classe C.

Esses recursos adicionais serão despejados no consumo, prevê Meirelles.

"Essas famílias usaram o 13º para pagar dívidas e, agora, esse dinheiro novo dará fôlego aos consumidores."

É o caso do auxiliar de escritório Fernando dos Santos, 19. No primeiro emprego com carteira assinada, Fernando quer usar o dinheiro extra para pagar dívidas de Natal e, depois, se tudo correr bem, financiar uma moto.

"Moro no Jardim Elisa Maria [na Brasilândia, na zona norte da cidade de São Paulo], levo mais ou menos uma hora para ir ao trabalho e uma hora para voltar. Quem sabe não uso a moto para ir para o trabalho?", planeja.

Com o salário, ele ajuda a mãe com os gastos em casa e quer terminar o ensino médio - ele está no segundo ano- para tentar uma vaga na universidade: quer ser analista de sistemas. "E ganhar melhor", planeja.

Os serviços, diz Meirelles, também estão na mira do consumo dessas famílias.

"Em 2001, de cada R$ 100 gastos por essas famílias,

R$ 49 eram usados em serviços. No ano passado, foram R$ 65 em cada R$ 100", diz.

Ainda segundo os cálculos da Datapopular, os consumidores de classes mais altas vão absorver R$ 3,19 bilhões, por conta do primeiro emprego e estágios dos jovens desse estrato econômico.

Já os de classes de renda mais baixas, das faixas D e E, absorverão R$ 12,47 bilhões.

Menos do que a classe C, diz Meirelles, devido à menor formalização no trabalho.

O economista José Márcio Camargo, da Opus Investimentos, é crítico desse incremento econômico.

"Esse dinheiro tem que sair de algum lugar. As empresas vão ter que deixar de comprar, de investir, para arcar com esses custos adicionais."

O resultado, diz, é que a renda total -e o consumo-não deverá aumentar tanto quanto se prevê com o aumento do salário.

"Com um lucro menor, as empresas poderão gerar menos empregos", afirma.

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