Escândalo na Petrobras
Prisão preventiva 'não tem cabimento', diz advogado
Para defensor, mesmos critérios também deveriam valer para prender Graça Foster
Assim como Cerveró, presidente da Petrobras doou imóveis aos seus filhos, mas ela não é investigada na operação
Defensor do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o advogado Edson Ribeiro afirmou que a justificativa do Ministério Público Federal para pedir a prisão preventiva de seu cliente "não tem cabimento". Mas, se tivesse,segundo ele, deveria levar também à prisão da presidente da estatal, Graça Foster.
Para justificar o pedido de prisão, a Procuradoria citou o fato de Cerveró ter transferido imóveis no Rio para os filhos, em 2014, e ter tentado transferir R$ 500 mil para a filha, em dezembro.
"Não estou imputando culpa a Graça Foster. Mas se o critério para a prisão de Cerveró foi ter transferido bens para filhos, o critério tem que valer para ela, que também doou imóveis para os filhos", disse Ribeiro.
"Ela também era da diretoria da Petrobras na época da compra dos 50% restantes da refinaria de Pasadena, assim como Cerveró era diretor na compra dos 50% iniciais. As decisões são tomadas pela diretoria. Se não vale para Graça, o Ministério Público está prevaricando", reclamou.
Graça, porém, não é alvo da Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobras. Cerveró é réu numa ação, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro.
No primeiro semestre de 2014, Cerveró transferiu três imóveis em Ipanema, zona sul do Rio, para os filhos.
Na mesma época, Graça doou três imóveis para os filhos dela, dois nos bairros da Ilha do Governador e do Rio Comprido (zona norte do Rio) e outro em Búzios.
Em nota, a Petrobras afirmou que "refuta veementemente a informação de que a presidente tenha feito qualquer movimentação patrimonial indevida".
Segundo a estatal, as operações de Graça obedeceram a lei e esclarecimentos a respeito foram enviados ao TCU (Tribunal de Contas da União).
Ribeiro afirmou que as operações de Cerveró são normais: "Não há ocultação porque não há laranja. São transferências para parentes, que poderiam ser revertidas caso fosse constatada fraude".
As transferências ocorreram antes de o TCU ter iniciado o julgamento do caso Pasadena, que, segundo o tribunal, resultou em prejuízo de US$ 792 milhões à estatal.
Cerveró foi responsabilizado no caso. Graça, não. O TCU já indicou que poderá aumentar a lista de responsáveis.
Ribeiro afirmou ainda que a tentativa de transferir os R$ 500 mil foi em dezembro, mas acabou não sendo efetuada --ele disse não saber o motivo.
"Ele estava com uma filha doente, ia viajar, e queria tirar o dinheiro de uma aplicação financeira para que ficasse disponível", disse. "É dinheiro proveniente de salários dele, declarado em Imposto de Renda. Qual é o crime nisso?"