Cerveró comprou 9 imóveis em áreas nobres em 9 anos, diz PF
Entre 2003 e 2012, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró adquiriu nove imóveis --cinco à vista e quatro a prazo-- no Rio de Janeiro e em Petrópolis (RJ). As propriedades da capital fluminense ficam nos bairros Ipanema e Copacabana. Ele também vendeu quatro imóveis.
Nesse período, Cerveró foi diretor da área internacional da estatal, de 2003 a 2008, e diretor financeiro da BR Distribuidora, de 2008 e março de 2014, além de conselheiro da Liquigás Distribuidora, subsidiária da petroleira.
Nas escrituras de compra e venda, os imóveis adquiridos por Cerveró custaram ao todo R$ 1,82 milhão. No entanto, a PF aponta que o valor é muito inferior ao praticado no mercado. Um dos imóveis que, no papel, valeria R$ 200 mil, sairia por cerca de R$ 2,3 milhões, de acordo com uma "avaliação judicial feita sobre o apartamento 201 do mesmo edifício em 3 de junho de 2013". A informação consta em despacho do juiz federal de Curitiba (PR) Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato.
As aquisições dos imóveis foram informadas pela Polícia Federal no inquérito da Operação Lava Jato que levou à prisão de Cerveró na madrugada desta quarta-feira (14) no aeroporto internacional do Rio. Em uma das aquisições feitas à vista, Cerveró fez um depósito em espécie de R$ 192,1 mil na conta do vendedor do apartamento.
Segundo relatório do Coaf (unidade de inteligência financeira do governo federal, vinculado ao Ministério da Fazenda), essa aquisição se enquadrou como uma operação sob suspeita, prevista em circular do Banco Central, que deve obrigatoriamente ser comunicada pelas instituições financeiras ao Coaf.
No dia 10 de junho de 2014, após a deflagração da primeira fase da Operação Lava Jato, ocorrida em março, Cerveró repassou quatro de seus apartamentos para dois filhos. No despacho que determinou a prisão do ex-diretor, o juiz Moro afirmou: "Nestor Cerveró [...] vem tentando blindar seu patrimônio capaz de ser, a curto prazo, rastreado no país, transferindo-o a pessoas de sua confiança".
Indagado pela Folha sobre a prática de compra de imóveis à vista, o advogado de Cerveró, Edson Moraes, disse que ainda não tomou conhecimento de todas as peças do inquérito e não tinha dados sobre as compras.
"O Nestor se colocou à disposição da PF ainda em abril de 2014 e nunca foi chamado para prestar qualquer esclarecimento", disse Moraes.
O advogado negou que, ao repassar os imóveis aos filhos, Cerveró tenha procurado se esquivar da Justiça. "É uma doação que ele fez aos seus filhos. O valor é baixo no papel porque foi o valor da época da aquisição. Isso é comum nos cartórios", disse o advogado.