Ministro admite que discutiu cargos, mas nega 'toma lá, dá cá'
Vargas diz que oferta de postos no governo a aliados não foi condicionada a apoio a petista na eleição da Câmara
Articulador político do governo federal confirmou encontro com parlamentares de partidos pequenos
Responsável pela articulação política entre o governo e o Congresso, o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais) confirmou nesta terça-feira (20) que se reuniu com parlamentares de partidos pequenos na semana passada e que, na ocasião, os deputados o questionaram se poderiam fazer indicações para o segundo e terceiro escalões.
O ministro, no entanto, negou que tenha condicionado a possibilidade de alocar esses políticos no governo em troca de apoio à candidatura do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara dos Deputados.
Reportagem da Folha mostrou nesta terça (20) que deputados relataram que o governo tem oferecido cargos em troca de apoio ao petista.
O principal adversário de Chinaglia é o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tido como desafeto pelo Planalto. Segundo o peemedebista, deputados relatam a ele a oferta de cargos.
"Todos os dias recebo relato de deputados abordados por ministros do Palácio tentando fazê-los mudarem para a candidatura do Chinaglia. Abordados com todo tipo de proposta e de cobranças, incluindo ofertas de cargos, segundo me relatam'', disse.
Representantes de um recém-formado bloco de oito partidos, que somam 40 deputados, se reuniram semana passada com Pepe Vargas.
Coordenadores desse bloco disseram à Folha, em entrevistas gravadas, que houve pedido de apoio a Chinaglia e oferta de cargos no governo federal e em administrações estaduais e municipais ligadas ao PT.
Segundo Pepe, a acusação de Cunha e os relatos dos deputados não procedem. "Esses parlamentares me perguntaram como o governo os enxergaria neste momento e eles perguntaram se poderiam fazer indicações para a composição do governo", relatou Vargas nesta terça. Na segunda, sua assessoria já havia negado a negociação de cargos.
De acordo com o ministro, ele respondeu aos deputados que eles teriam legitimidade para fazer indicações.
"Quem vai definir as eleições na Câmara não é o governo. [...] Nós não formamos nosso governo com toma lá, dá cá. Mas é evidente que o governo vai ser formado por pessoas indicadas por partidos e por pessoas que não são de partidos. Desconheço qualquer governo que não seja formado assim. Isso é democrático. É legítimo", disse.
REAÇÃO
Em resposta ao ministro, Eduardo Cunha reafirmou os relatos que diz ter ouvido de parlamentares e afirmou que, "na hora que o governo toma lado, obviamente isso terá sequelas", afirmou.
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) quer convocar o ministro Pepe Vargas para explicar no Congresso a suposta oferta de cargos a congressistas em troca do apoio a Chinaglia.