Escândalo na Petrobrás
Corrupção levou a compra de políticos, afirma empreiteiro
Vice-presidente da Engevix, que está preso, disse em sua defesa que foi achacado por ex-diretor da Petrobras
Segundo o executivo, Paulo Roberto, que delatou esquema, agia 'em nome de partido ou em nome de governo'
Preso em Curitiba desde novembro na Operação Lava Jato, o executivo Gerson de Mello Almada, 64, vice-presidente da construtora Engevix, acusou o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa de fazer "achaques" "em nome de partido ou em nome de governo".
Segundo o empresário, "o pragmatismo nas relações políticas chegou a tal dimensão que o apoio no Congresso passou a depender da distribuição de recursos a parlamentares. O custo alto das campanhas eleitorais levou, também, à arrecadação desenfreada de dinheiro para as tesourarias dos partidos".
Ainda de acordo com o executivo, a Petrobras "foi escolhida para geração desses montantes necessários à compra da base aliada do governo e aos cofres das agremiações partidárias".
As afirmações constam da resposta feita pelos advogados do empresário à denúncia do Ministério Público Federal na Operação Lava Jato. A peça, subscrita por um grupo de advogados capitaneados por Antonio Sergio de Moraes Pitombo, foi protocolada na noite de quarta (21).
Trata-se da primeira manifestação de algum dos empreiteiros presos pela Lava Jato que associa diretamente os desvios da Petrobras a um suposto esquema político de apoio ao governo federal. Ele não apresentou provas.
Para Almada, "não é verdade" que Costa e outros diretores da Petrobras tenham apenas oferecido vantagens aos empresários. Segundo ele, os então diretores "fizeram exigências aos empreiteiros".
O empreiteiro afirmou que Costa "e demais brokers [operadores] do projeto político de manutenção dos partidos na base do governo colocaram os empresários na mesma situação, não por vontade, não por intenção, mas por contingência dos fatos. Quem detinha contratos com a Petrobras sofreu o achaque".
Na petição, o empresário reconheceu: "[Almada] compõe, tão só, o grupo de pessoas que pecaram por não resistirem à pressão realizada pelos porta-vozes de quem usou a Petrobras para obter vantagens indevidas para si e para outros bem mais importantes na República Federativa do Brasil".
Por meio do mesmo documento, o executivo afirmou que a acusação feita contra ele pelo Ministério Público Federal escondeu fatos que pudessem embaraçar o poder central de Brasília.
"Vale registrar alguns fatos notórios (...) que desapareceram da acusação: faz mais de doze anos que um partido político [PT] passou a ocupar o poder no Brasil. No plano de manutenção desse partido no governo, tornou-se necessário compor com políticos de outros partidos, o que significou distribuir cargos na Administração Pública, em especial, em empresas públicas e em sociedades de economia mista."
Preso em março passado, Costa celebrou um acordo de delação premiada com o Ministério Público pelo qual assumiu diversos crimes e, por isso, teve a pena reduzida.
Almada foi acusado pelos procuradores de criar e integrar uma organização criminosa, além das práticas de formação de cartel e crime contra a lei de licitações.
Procurado, o advogado de Paulo Roberto Costa, João Mestieri, afirmou que as acusações de achaque por parte de seu cliente são inverídicas. "Criou-se uma maneira de proceder [na Petrobras] que era sustentada pela política. A pressão vinha do lado político", declarou.
Em sua delação, Costa afirmou que PT, PP e PMDB determinavam um percentual dos contratos da Petrobras que deveriam receber.
A assessoria de imprensa do Ministério Público Federal do Paraná informou que os procuradores "vão se manifestar apenas nos autos".