Escândalo na Petrobrás
Empreiteiro inclui ministro de Dilma como testemunha
Jaques Wagner e outros seis políticos devem depor para Ricardo Pessoa, da UTC
Cinco das testemunhas citadas pelo empresário receberam doações da construtora nas eleições do ano passado
A defesa do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, incluiu como testemunhas de defesa um ministro do governo Dilma Roussef, Jaques Wagner (PT), o tesoureiro da campanha de Lula em 2006, José de Filippi Júnior, e outros seis políticos de um espectro ideológico que vai do PT ao DEM, passando por PSDB e PPS.
Pessoa é réu na Operação Lava Jato, está preso desde novembro e foi acusado por delatores de chefiar o "clube" de empreiteiras que fraudava licitações na Petrobras.
Entre os seis políticos que deverão depor a favor de Pessoa estão o deputado e candidato à Presidência da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP), o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo e os deputados federais Paulo Pereira da Silva (SD-SP), Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP) e Jutahy Júnior (PSDB-BA), além do ex-deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP).
Cinco das testemunhas receberam doações da UTC em 2014: Chinaglia (R$ 150 mil), Jardim (R$ 150 mil), Jutahy (R$ 300 mil), Tadeu (R$ 458 mil) e Paulinho (R$ 19 mil).
"Não há nenhuma razão política para arrolarmos essas testemunhas. São pessoas que conhecem o trabalho do Ricardo. Chamamos até pessoas que estudaram com o Ricardo na Escola Militar", disse advogado Alberto Toron, que defende o empreiteiro.
Advogados que atuam no caso, ouvidos pela reportagem sob condição de anonimato, dizem que sua estratégia pode ser uma tentativa de mostrar que o esquema da Petrobras não se restringia ao PT, PMDB e PP, citados como beneficiados do esquema.
Pessoa negocia acordo de delação com os procuradores da Lava Jato, conforme a Folha revelou no sábado (24).
A defesa da UTC questiona ainda por que as construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez não foram alvos de acusações dos procuradores.
"A denúncia sustenta que a dita organização criminosa era constituída pela Odebrecht e Andrade Gutierrez. Ocorre que não se vê nenhum controlador ou mesmo executivo destas empresas no polo passivo desta ação penal", diz.
"Das duas uma: ou não há prova quanto a estes para colocá-los desde logo no banco dos réus e, portanto, é indevida a referência a tais empresas; ou, se há provas, deve haver, para usarmos um eufemismo, 'particularidades', que as distinguem e que, portanto, 'recomendam' a instauração de ação penal distinta", continua a defesa.
Toron diz na defesa não ter tido acesso a provas usadas contra Pessoa e que as ações penais foram divididas superficialmente, quando deveria haver uma só. Esses fatos, para os advogados, caracterizam cerceamento de defesa.
OUTRO LADO
Procurada, a Obebrecht não quis se pronunciar. A Andrade Gutierrez afirma que não é investigada pela Operação Lava Jato e que todos os seus contratos com a Petrobras são legais.