Petrolão
Vaccari operava para o PT, diz Procuradoria
Segundo Ministério Público, tesoureiro da legenda fazia parte de grupo que lavou centenas de milhões de reais
Petista confirmou à PF que se encontrava com ex-diretor da Petrobras em hotel e, à Folha, ter ido à festa de filha dele
Em representação protocolada na Operação Lava Jato, o Ministério Público Federal afirmou que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, "foi responsável por operacionalizar o repasse de propinas" à sigla, decorrentes de contratos "no âmbito da Petrobras".
Segundo os procuradores, Vaccari integrou um grupo de 11 "operadores financeiros" que "movimentaram em seu nome e lavaram centenas de milhões de reais".
A partir do documento, o órgão e a Polícia Federal conseguiram ordem do juiz federal Sergio Moro para desencadear na quinta (5) a 9ª fase da Lava Jato --Vaccari foi levado para depor no mesmo dia.
Um dos principais elementos para a deflagração foram os depoimentos do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, que disse ter atuado para o então diretor de Serviços, Renato Duque --a quem, inclusive, afirmou ter repassado pagamentos quinzenais de R$ 50 mil, em dinheiro.
Mas os procuradores também citaram os depoimentos do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, segundo os quais Vaccari "responsável por viabilizar, no interesse do Partido dos Trabalhadores, o repasse de propinas decorrentes de contratos firmados pela Petrobras nos quais havia a participação da Diretoria de Serviços".
No despacho que autorizou a ação na quinta, Moro disse: "A palavra de criminosos colaboradores deve ser vista com cuidado. Entretanto, no presente caso, reuniu o MPF um número significativo de documentos que amparam as afirmações acima, a maior parte consistente em documentos e extratos fornecidos pelos criminosos colaboradores".
Segundo o Ministério Público Federal, dez "operadores" representavam empreiteiras diversas, enquanto Vaccari atuava em favor do PT.
Para os procuradores, as atividades desse grupo revelam "crimes de cartel, corrupção passiva e ativa, fraude em licitações, contra o sistema financeiro nacional, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e/ou documental e organização criminosa".
Em depoimento à PF e em notas à imprensa, Vaccari tem negado envolvimento com irregularidades e desvios de recursos da Petrobras.
Em nota divulgada na quinta, o PT afirmou que "recebe apenas doações legais".
ENCONTROS
O tesoureiro confirmou à PF que esteve com Duque em hotel no Rio. Questionado sobre o motivo de um encontro no Windsor, em Copacabana, disse que teve conversas sociais com o ex-diretor da estatal algumas vezes no local.
O tesoureiro leu a íntegra do depoimento a amigos durante o encontro do PT em Belo Horizonte, nesta sexta (6).
Vaccari confirmou à PF conhecer empresários como Léo Pinheiro (OAS) e Ricardo Pessoa (UTC) pois, como tesoureiro do PT, procura executivos para pedir doações legais.
Em seu depoimento, Barusco disse que Duque tinha "proximidade muito grande, um contato 'muito forte' com Vaccari" e que ambos "costumavam se encontrar no hotel Windsor Copacabana, no Rio, e no Meliá, em São Paulo".
À Folha o tesoureiro confirmou ter ido à festa de uma filha de Duque. Disse que, como era um evento para 500 pessoas, era coerente o convite, pois os dois tinham mantido relações sociais.
A reportagem perguntou se eles eram amigos. "Relações sociais não significam uma amizade próxima, como dizer que é amigo sugere."