Aliados do governo resistem a pacote fiscal no Congresso
Emendas podem reduzir impacto de medidas propostas pela equipe econômica
Parlamentares acham que perda de popularidade de Dilma abre caminho para concessões do Planalto
Parlamentares dos partidos que apoiam o governo no Congresso começaram a se mobilizar para barrar ou atenuar o impacto das medidas de ajuste fiscal propostas pela presidente Dilma Rousseff.
O pacote, que reduz benefícios trabalhistas e previdenciários em busca de uma economia de R$ 18 bilhões neste ano, enfrenta resistências até no PT, o partido de Dilma.
Deputados e senadores apresentaram até a tarde desta segunda (9) 620 sugestões de mudanças nas duas medidas provisórias que compõem o pacote. Parlamentares governistas apresentaram 412 emendas, dois terços do total.
As mudanças atingem pontos centrais das medidas, que mudam regras para concessão do seguro-desemprego, do abono salarial, da pensão por morte e do seguro-defeso para pescadores artesanais.
As propostas dos congressistas serão analisadas primeiro por comissões formadas por deputados e senadores. Depois, cada medida provisória será votada no plenário da Câmara e no Senado.
A senadora Marta Suplicy (PT-SP), ex-ministra da Cultura de Dilma que deixou o governo fazendo críticas ao PT e à presidente, protocolou nove emendas ao pacote.
"Os desafios a serem enfrentados pelo governo são gigantescos, resultado do fracasso da política econômica, da falta de ações necessárias durante o agravamento da crise e, sobretudo, da falta de transparência na condução da economia", disse Marta na justificativa às suas emendas.
"O país assiste atônito ao aumento das tarifas, à escalada da inflação, ao aumento consecutivo dos juros e ao aumento de impostos. Sem falar na corrupção, que somada aos rumos econômicos tortuosos, torna cada vez mais difícil o resgate da confiança e da credibilidade", completou.
O PC do B, outro partido governista, fechou questão contra as medidas. "Estourar a corda para o lado mais fraco, na hora da dificuldade, não dá", afirmou Orlando Silva (PC do B-SP), ex-ministro do Esporte de Lula e Dilma.
Congressistas de outros oito partidos com representantes no ministério de Dilma (PMDB, PSD, PP, PDT, PR, PROS, PRB e PTB) também apresentaram emendas. A rejeição das centrais sindicais às medidas propostas pela equipe econômica deu impulso à resistência no Congresso.
O governo quer restringir a concessão do seguro-desemprego a trabalhadores com mais de 18 meses de vínculo empregatício na primeira vez que solicitarem o benefício. Os congressistas querem reduzir esse período para seis ou oito meses.
Como a Folha mostrou em janeiro, o Planalto sabe que terá de fazer concessões para conseguir a aprovação das medidas no Congresso. Mas a queda repentina sofrida pela popularidade de Dilma deverá aumentar as pressões para que o governo negocie.
NEGOCIAÇÕES
Segundo o Datafolha, o governo da petista é avaliado como ótimo ou bom por 23% dos entrevistados e como ruim ou péssimo por 44%.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que o governo vai trabalhar para preservar a essência do ajuste, mas que há espaço para negociações.
"O governo está tomando medidas seguras, tendo em vista o objetivo futuro, que é preservar as conquistas sociais e o crescimento econômico. Mas é claro que as medidas devem ser aperfeiçoadas pelo governo e vamos buscar um denominador comum", disse o deputado.