Petrolão
Renan critica procurador por ações contra políticos
Presidente do Senado fala em mudar eleições no Ministério Público Federal
Alvo da Operação Lava Jato, peemedebista diz que Procuradoria deveria ouvir suspeitos antes de investigá-los
Alvo das investigações sobre corrupção na Petrobras, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), criticou os procedimentos adotados pelo Ministério Público Federal na Operação Lava Jato e defendeu novas regras para recondução do procurador-geral da República.
Após repetir que ainda não recebeu informações sobre o seu caso, Renan disse que o Ministério Público deveria ter ouvido os políticos suspeitos de envolvimento com o esquema antes de pedir autorização do Supremo Tribunal Federal para investigá-los.
"Lamento que o Ministério Público não tenha ouvido as pessoas como é praxe", disse Renan nesta quinta-feira (5). "Para que as pessoas questionadas possam se defender, apresentar as suas razões."
Em seguida, ele acrescentou: "Isso tudo é da democracia. Quando há excesso, quando há pessoas citadas injustamente, a democracia depois corrige tudo isso".
Na terça (3), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo autorização para investigar 54 pessoas por suspeita de envolvimento com a corrupção na Petrobras. A lista, que inclui políticos como Renan e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ainda é mantida em sigilo pelo STF.
Renan também defendeu nesta quinta novas regras para a recondução do procurador-geral ao cargo, como a desincompatibilização do posto antes do período eleitoral.
"Estamos com o procurador em processo de reeleição para sua recondução ao Ministério Público", disse. "Quem sabe se nós, mais adiante, não vamos ter que, a exemplo ao que estamos fazendo com o Executivo, regrar esse sistema que o Ministério Público tornou eletivo."
O mandato de Janot no cargo termina em setembro. Ele poderá ser reconduzido ao posto se a presidente Dilma Rousseff aceitar a indicação do Ministério Público e o Senado aprovar a sua nomeação.
As críticas de Renan foram feitas durante discussão no Senado de um projeto que obriga candidatos à reeleição para cargos do Executivo a se afastar de suas funções até seis meses antes da eleição.
A Procuradoria-Geral da República não comentou as declarações de Renan. Em carta enviada aos colegas na quarta, Janot disse não acreditar que esses "dias de turbulência" poderiam "fomentar investidas que busquem diminuir o Ministério Público, desnaturar o seu trabalho ou desqualificar o seus membros".
Desde que seu nome entrou na lista de Janot, Renan subiu o tom contra o governo, em busca de apoio para continuar na presidência do Senado mesmo se o STF autorizar o inquérito sobre ele.
Na terça, Renan devolveu ao Planalto a medida provisória que mudava as regras de desoneração da folha de pagamento de diversos setores da economia, barrando parte importante do ajuste fiscal proposto pelo governo.
O senador já deu sinais de que pode continuar na ofensiva nas próximas semanas, criando novas dificuldades para o governo no Congresso.
Renan também indicou que não aceitará nomes apoiados pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para a vaga do ex-ministro Joaquim Barbosa no STF, que a presidente Dilma ainda não preencheu. Peemedebistas acham que Cardozo influenciou a decisão de Janot de incluir Renan e Cunha em sua lista.