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Kassab, o equilibrista

Ao negociar com PT e PSDB ao mesmo tempo, prefeito persegue um objetivo maior que a própria sucessão: blindar-se contra ataques para se eleger governador de São Paulo, se possível já em 2014

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
CATIA SEABRA
DE BRASÍLIA

Ao negociar com lados opostos e se equilibrar entre PT e PSDB na eleição paulistana, o prefeito Gilberto Kassab persegue um objetivo maior do que exercer influência na eleição do sucessor.

Sua prioridade é construir uma blindagem contra ataques na campanha e garantir a própria sobrevivência política a partir do ano que vem, quando estará sem mandato.

Todos os movimentos do fundador do PSD obedecem a uma meta declarada: eleger-se governador de São Paulo. Se possível já em 2014, quando o tucano Geraldo Alckmin deve disputar a reeleição.

Para manter o sonho vivo, Kassab não pode deixar a prefeitura pela porta dos fundos. Nem descartar uma aliança com os petistas, rivais históricos desde o tempo em que ele andava com os antecessores Celso Pitta e Paulo Maluf.

O prefeito terminou o ano passado com a pior avaliação popular desde que iniciou o seu segundo mandato, em 2009. Para cada eleitor que considera sua gestão ótima ou boa (20%), outros dois a classificam como ruim ou péssima (40%), segundo a última pesquisa Datafolha.

A oito meses da eleição, ele sabe que não terá tempo hábil para reconstruir a imagem por conta própria, mesmo despejando dinheiro em propaganda ou em obras rápidas e de visibilidade, como o recapeamento de ruas.

Por isso, tenta amarrar os principais partidos da disputa com a possibilidade de apoiá-los, o que constrangeria os dois lados a ponto de evitar que seus candidatos cheguem à campanha com um discurso de oposição.

Em conversas com petistas e tucanos, Kassab tem repetido as mesmas críticas a Alckmin, indicando que vê o governador como seu adversário em 2014 -e vice-versa.

Ao presidente do PSDB, Sérgio Guerra, reclamou dos atritos no relacionamento com o governador, que se recusa a apoiar o próprio vice, Guilherme Afif Domingos (PSD), caso o tucano José Serra não participe da eleição.

Kassab chegou a prometer a Alckmin apoiar sua reeleição em troca de uma aliança para ser o candidato em 2018. Como o governador não aceitou, ele afirmou a Guerra que partiria para um plano B.

"Disse a ele que não poderia deixar de avaliar outras alternativas para as eleições", relatou o prefeito à Folha.

O ADVERSÁRIO

Com os petistas, ele adota o mesmo tom pragmático. Diz que planejava manter a aliança com o PSDB, mas esbarrou no veto de Alckmin, o que o levou a procurar o ex-presidente Lula e oferecer apoio a Fernando Haddad (PT).

O prefeito reclama que o governador já o trata como adversário, porque os dois disputam o mesmo eleitorado conservador e podem se enfrentar na próxima corrida ao Palácio dos Bandeirantes.

A aproximação já domesticou o discurso dos petistas, que prometiam fazer uma campanha de oposição radical à sua gestão. "Temos que permanecer abertos ao diálogo", diz o presidente estadual do PT, Edinho Silva.

Kassab fez uma defesa pública da negociação, dizendo não ver "incoerência" num possível apoio a Haddad.

Como PSDB e PMDB participam de seu governo, o prefeito pretende cobrar lealdade do candidato tucano, mesmo que não o apoie, e do peemedebista Gabriel Chalita.

Qualquer que seja a sua opção eleitoral, Kassab conta com uma política de boa vizinhança dos principais concorrentes à sua cadeira.

Ou seja: aceita que os pré-candidatos se ataquem entre si, mas sem direcionar a mira para a sua administração.

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