Governo tenta reagir repetindo promessas
Ministros da Justiça e da Secretaria-Geral da Presidência anunciaram pacotes de reforma política e anticorrupção
Indignada por ser o alvo dos atos, Dilma desabafou a assessores: 'Não contribuí para isso tudo e levo a culpa'
A primeira reação do governo federal às manifestações deste domingo (15) foi a de desengavetar duas bandeiras antigas de Dilma Rousseff, já anunciadas como respostas aos protestos de junho de 2013 e como promessa na campanha eleitoral de 2014.
A ideia de ressuscitar a ênfase na reforma política já lançada em 2013 e no pacote contra corrupção não convenceu nem Dilma, na reunião que manteve com ministros durante o dia no Palácio da Alvorada. "Isso não mobiliza ninguém", disse, segundo um interlocutor.
De toda forma, dois dos presentes ao encontro concederam entrevista para anunciar as medidas como reação às manifestações. Em diversas capitais do país, a transmissão, que não foi em rede nacional como a de Dilma há uma semana, foi recebida com buzinaços e panelaços.
Primeiro falou o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), que reconheceu o direito dos manifestantes. Disse que eles estiveram "longe de golpismos" e que o governo está disposto a "ouvir as ruas".
Ele afirmou que tanto os protestos mais favoráveis ao governo na sexta-feira (13) quanto os do domingo tinham como denominador comum a crítica à corrupção.
Assim, prometeu para "os próximos dias" um pacote de medidas na área.
Cardozo adotou um tom conciliador e disse considerar o panelaço natural naquele momento. Em contraste, Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) deu ênfase à leitura de que os manifestantes do domingo são opositores de Dilma.
Também deu mais importância ao protesto majoritariamente pró-governo da CUT e outras entidades simpáticas ao Planalto, na sexta (13).
"Os protestos ocorridos hoje são de setores críticos ao governo, e seguramente essa participação parece ser de eleitores que não votaram na presidente Dilma", disse.
Ele ressaltou diversas vezes os grupos que pedem intervenção militar, classificando-os de golpistas e fascistas.
Também chamou de golpistas os defensores do impedimento de Dilma. Nas suas palavras, eles apoiam um "impeachment infundado".
Tanto Rossetto quanto Cardozo defenderam a proposta petista de reforma política, da qual um ponto central é o fim do financiamento privado de campanhas. O principal aliado do PT no governo, o PMDB, resiste à ideia.
Na reunião da tarde, houve consenso de que a situação só pode melhorar em termos de popularidade se houver algum alívio na economia --daí a importância da aprovação do ajuste fiscal.
Além de Cardozo e Rossetto, estavam presentes na reunião do Alvorada os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa) e Thomas Traumann (Comunicação Social).
DESABAFO
Durante o encontro com sua equipe, Dilma repetiu várias vezes que ficava indignada em ser o alvo das manifestações contra a corrupção. "Eu não contribuí para isso tudo e levo a culpa", desabafou a assessores.
A pesquisa Datafolha mostrando que mesmo na manifestação pró-Dilma a maioria a identifica como responsável pela corrupção na Petrobras foi discutida e considerada preocupante. Na entrevista, Cardozo afirmou que os governos do PT têm coragem de investigar e, por isso, acabam "pagando um preço".
Dilma e equipe foram surpreendidos pelo tamanho dos protestos de domingo. Nem mesmo a medição do Datafolha do ato em São Paulo --210 mil, contra 1 milhão de presentes segundo a PM-- foi motivo de alívio.