Análise interna do Planalto fala em 'caos político' e admite erros
Documento da Secretaria de Comunicação do Planalto diz que eleitores de Dilma estão magoados
Produzido pelo ministro Thomas Traummann, texto sugere reforçar publicidade oficial em São Paulo neste ano
Um diagnóstico sigiloso do governo admite que a comunicação da gestão Dilma Rousseff foi "errada e errática" em diversos momentos, mas avalia que a "crise é maior do que isso". O documento aponta para um distanciamento entre a presidente e seus militantes nas redes sociais.
O texto elaborado pela Secom (Secretaria de Comunicação Social) traz uma conclusão reveladora: há mágoa entre os eleitores de Dilma.
Conforme o relatório, publicado no site do jornal "O Estado de S. Paulo" e depois obtido pela Folha, motivaram esse ressentimento o duro ajuste fiscal, com contaminação de programas sociais; a ausência de agendas públicas desde a eleição até o carnaval; a mudança nas regras de seguro desemprego e pensão por morte; o "desastroso" anúncio dos cortes do Fies, aumentos nos preços da gasolina e energia elétrica, "massacre" nas TVs com as denúncias na Petrobras.
Tudo isso, diz, gerou um sentimento de "abandono e traição" entre os apoiadores da presidente, enquanto o exército digital da oposição manteve ativas suas ferramentas de combate, como robôs e multiplicadores.
Sob título "onde estamos", o documento produzido pelo ministro Thomas Traummann, com base em pesquisas telefônicas e monitoramento de redes sociais, dá o caminho da solução: convencer a presidente a falar mais, se expor mais, "não importa quantos panelaços façam".
E acrescenta: "a publicidade oficial de 2015 deve ser focada em São Paulo".
A autocrítica exposta no relatório afirma que "a comunicação é o mordomo das crises. Em qualquer caos político, há sempre um que aponte 'a culpa é da comunicação´. Desta vez, não há dúvida de que a comunicação foi errada e errática. Mas a crise é maior do que isso."
Segundo a Folha apurou, o vazamento da análise ocorre em um momento no qual o titular da Secom transformou-se em alvo de grupos do PT interessados em controlar a área de comunicação do governo.
A crise na popularidade presidencial, agravada por panelaços e os protestos de domingo, motivou uma guerra de intrigas entre funcionários da Esplanada.
O PT quer comandar a distribuição de recursos publicitários com o intuito de bancar publicidade oficial em veículos mais engajados. Dentro da sigla, há uma defesa de que esses recursos sejam administrados pelo Ministério das Comunicações, comandado pelo partido.
Como exemplo de desalento na militância digital, o relatório pinça frases que ilustram esse mau humor de eleitores cativos: "votamos nela e a política econômica é de Aécio", "ela mexeu nos direitos dos trabalhadores" e "não tinha como ela não saber dessa corrupção toda na Petrobras".
E a análise segue, desta vez mencionando o sumiço da artilharia petista: "as páginas dos deputados e senadores do PT pararam de defender o governo". Diz ser sintomático que a principal página do Facebook pró-Dilma não oficial, a Dilma Bolada, começou a perder fãs em fevereiro. (NATUZA NERY E VALDO CRUZ)