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Pesquisa revela mudança no perfil de padre brasileiro Religiosos oriundos de ordens e congregações cedem espaço para sacerdotes com estilo mais 'profissional' Dados também indicam que igreja tem revertido tendência de encolhimento do número de padres DANIEL RONCAGLIADE SÃO PAULO A Igreja Católica no Brasil mudou nos últimos 40 anos. Deixou de ser formada em sua maioria pelo tradicional religioso das ordens e congregações, que é obrigado a fazer o voto de pobreza, para dar lugar ao chamado padre de paróquia, que tem pensão, benefícios, costumes e estilo de vida menos restritivos. Censo do Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais da Igreja Católica revela que o número dos chamados "padres paroquiais" teve um aumento de 180% desde 1970, enquanto o de "padres religiosos" não se alterou. Com isso, a proporção se inverteu. Os "religiosos", que representavam 61,50% da base da igreja, formam agora 36% do clero. Os paroquiais, 64% de um total de 22 mil. Os números mostram também que a igreja tem revertido a tendência de encolhimento, ampliando a proporção de padre por habitante. VOTOS A principal diferença entre os dois tipos de padre está no voto de pobreza dos membros das congregações. "O religioso tem que provar para o seu superior que tem a necessidade de possuir um bem. Não pode adquirir por si mesmo", explica Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de Teologia da PUC-SP e padre paroquial. Segundo ele, as restrições podem afastar os candidatos, pois muitos já chegam com ensino superior concluído. "Estamos em mundo muito mais liberal. É preciso ter estrutura para viver desse modo", afirma. Ele lembra, entretanto, que as ordens em regra possuem considerável patrimônio. A instituição que Valeriano dirige é responsável por uma das etapas de formação dos sacerdotes. De acordo com ele, a média de idade das turmas é de 28 anos, mas existem alunos com mais de 40 anos. O envelhecimento dos candidatos ao sacerdócio é um dos fatores que, entre outros, são apontados para explicar a mudança no perfil. Valeriano cita, por exemplo, que não existem mais os seminários exclusivos para adolescentes. Nome mais conhecido da igreja no Brasil, o "paroquial" Marcelo Rossi virou padre aos 27 anos. Padre da Ordem do Carmo em São Paulo, frei Petrônio Miranda, 44, reconhece que a vida no convento tem mais exigências. "Temos uma formação mais longa." O convento onde vive já abrigou 60 frades, mas hoje conta com três padres e quatro alunos. O professor da USP Flávio Pierucci, especialista em religião, diz que o crescimento dos padres de paróquia pode fortalecer a cúpula da Igreja Católica, pois os "religiosos" não estão vinculados ao poder dos bispos. Para o padre José Carlos Pereira, doutor em sociologia pela PUC-SP, é comum ainda que candidatos a padre busquem a igreja como oportunidade de carreira e status social. "Padre nunca fica 'desempregado'", diz. Ao ser responsável por uma paróquia, o sacerdote tem direito a moradia, carro, alimentação, plano de saúde, empregada doméstica e pensão (cerca de R$ 1.866, mas o valor pode variar). "Os padres que abandonam o sacerdócio alegam mais problemas afetivos que financeiros", diz Pereira. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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