Petrolão
Tesoureiro defende doações ao PT e ataca partidos rivais
Vaccari diz a CPI que contribuições foram legais e que PSDB também recebeu
Dirigente petista admite encontros com doleiro e ex-diretor da Petrobras, mas evita explicar os contatos
Em depoimento à CPI da Petrobras nesta quinta (9), o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, defendeu as doações que o partido recebeu de empresas investigadas pela Operação Lava Jato e admitiu ter se encontrado com operadores do esquema de corrupção descoberto na estatal, mas evitou explicar os contatos.
Durante quase oito horas, Vaccari comparou as doações recebidas pelo PT de empresas sob investigação com as que outros partidos receberam. Segundo dados apresentados por ele, de R$ 222 milhões doados por essas empresas em 2014 aos partidos, o PT ficou com 25%, o PSDB com 24% e o PMDB com 21%.
A sessão foi marcada pela soltura de roedores na sala e por embates entre o PT e a oposição, que saiu frustrada com as respostas de Vaccari. Ele havia obtido uma liminar na Justiça que o desobrigava de falar a verdade, para não produzir provas contra si.
As doações ao PT estão sob suspeita porque, segundo o Ministério Público Federal, foram uma forma de pagamento da propina que empresas deviam ao PT para manter contratos com a Petrobras.
Vaccari iniciou o depoimento com uma apresentação de slides sobre as doações. Durante os questionamentos, porém, o petista adotou por diversas vezes um discurso padronizado para evitar detalhar sua relação com os operadores do esquema.
Delatores da Lava Jato afirmaram que Vaccari era encarregado de recolher propina cobrada pela diretoria de Serviços da Petrobras. O diretor na época era Renato Duque, que tinha o ex-gerente Pedro Barusco como subordinado.
Barusco, que decidiu colaborar com as investigações, disse que parte da propina ficava com ele e outra parte ia para o PT. Em depoimento à CPI da Petrobras, o ex-gerente disse que ele e Duque se reuniam com Vaccari em hotéis para tratar da propina.
Vaccari confirmou que os conhecia e encontrava, mas disse que nunca tratou das finanças do partido com eles.
O tesoureiro disse que conheceu Duque em um evento social no Rio e depois manteve contato com ele. "É um relacionamento amistoso e social. Uma pessoa com quem eu gosto de conversar, discutir política", afirmou Vaccari.
Disse ainda que só conheceu Barusco quando ele estava fora da Petrobras. Questionado sobre como marcavam seus encontros ou sobre os detalhes de como se conheceram, ele não respondeu.
Vaccari confirmou ter estado no escritório do doleiro Alberto Youssef, um dos operadores do esquema de corrupção, como provam imagens obtidas pela Polícia Federal. O tesoureiro disse que Youssef lhe convidou para ir até lá, mas não disse o motivo. "Youssef mandou um recado para que fosse ao escritório. Não marcou data. Compareci, ele não estava e fui embora".
No depoimento, Vaccari não recebeu grande suporte dos petistas, que se limitaram a defender a sigla, dizendo que não se pode criminalizar as doações legais.
Em relação aos integrantes da oposição, sofreu críticas, chegando a ser chamado de "criminoso". A deputada Mariana Carvalho (PSDB-RO) sugeriu que ele fosse submetido a um detector de mentiras.