Entrevista - Jonathan David Taylor
Petrobras e SBM querem fugir da palavra propina
Ex-diretor da empresa holandesa acusada de pagar suborno à estatal diz estar disposto a colaborar com CPI
Ex-diretor da SBM Offshore, o britânico Jonathan David Taylor, 45, recebeu a reportagem da Folha no último sábado (11) em uma cidade do Reino Unido, a uma hora de Londres. Por razões de segurança, pediu para não identificar a região.
Ele atuou na área jurídica de vendas e marketing da empresa entre 2003 e 2012.
Taylor falou pela primeira vez a um veículo do Brasil e detalhou parte do que entregou às autoridades brasileiras, incluindo extratos dos pagamentos a offshores do lobista Julio Faerman, intermediário das propinas na Petrobras.
Ele afirma que SBM e Petrobras combinaram versões para acobertar as apurações e não prejudicar os negócios.
O ex-funcionário diz ter visitado o Brasil pelo menos sete vezes para discutir contratos com a Petrobras.
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Por que o sr. deixou a SBM?
Folha - Saí quando vi as tentativas de acobertamento das investigações, lideradas pelo então chefe de compliance (fiscalização interna), Sietze Hepkema.
Como o sr. descobriu esse esquema de propina?
Um advogado nos informou sobre algumas atividades de um agente chamado Hanny Tagher, também ex-diretor da SBM, em janeiro de 2012. A partir daquele momento, veio muita informação. Basicamente, evidência de empresas de gás subornando indivíduos para ganhar licitações. No Brasil, a Petrobras havia montado esquema de propina por meio do Julio Faerman, desde os anos 90.
O sr. é mesmo o responsável pela publicação do material vazado na Wikipedia?
Não posso comentar sobre quem publicou isso. Pelo menos 20 pessoas tiveram acesso à versão original, entre elas executivos da empresa.
O sr. esteve com Faerman?
Várias vezes. Julio Faerman não era um agente independente. Ninguém da Petrobras falava com a SBM sem ele. Era altamente íntimo do esquema no Brasil, e atuava com seu filho Marcello e o sócio Luiz Eduardo Barbosa.
O sr. veio ao Brasil pela SBM?
Acho que umas sete vezes.
O sr. colaborou com autoridades brasileiras?
Sim, três membros da CGU vieram até aqui falar comigo. Eu disse o que sabia. E tinha entregue [em 27 de agosto] vários emails, informação. Eu os contatei.
À CGU o sr. confirmou a versão de propina na Petrobras?
Sim. Me lembro exatamente: era a sexta-feira [3 de outubro] antes do primeiro turno [das eleições presidenciais].
O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco afirma que a SBM deu US$ 300 mil para a campanha de Dilma em 2010 a pedido do PT. O sr. confirma?
É muito provável. Não sei quem recebeu o quê, nós sabemos que a Petrobras foi corrompida, e temos evidência.
CGU, SBM e Petrobras admitiram irregularidades somente em 12 de novembro.
A única conclusão que posso tirar disso é que essas partes queriam proteger o Partido dos Trabalhadores e a presidente Dilma ao atrasar o anúncio dessas investigações para evitar um impacto negativo nas eleições. Para a SBM, era importante ter uma sobrevida com os contratos no Brasil. É minha opinião.
O sr. aceitaria colaborar com a CPI no Congresso?
Claro. Provavelmente, se tudo isso tivesse sido descoberto mais cedo, Dilma Roussef não seria presidente.
Que tipo de documentos o sr. tem e entregou?
Tenho, por exemplo, uma gravação de Hanny Tagher de uma reunião em de 27 de março de 2012. Quando perguntado por Bruno Chabas (CEO) sobre Julio Faerman, Tagher explica quem é e o que fazia. Disse que, dos pagamentos feitos pela SBM para comissões, 1% ficava com o Faerman, e a outra parte, 2%, iria para a Petrobras. E eu perguntei então para ele, na gravação: "Petrobras?". Ele responde "Sim".
Há indícios de interesse da SBM em acobertar as denúncias envolvendo a Petrobras?
Em 26 de março de 2013, a SBM anunciou um contrato de US$ 3,5 bilhões com a Petrobras.
Dois dias depois, divulgou nota sobre suas investigações internas de pagamentos impróprios, sem mencionar o Brasil. Essa era a chave do acordo com a Petrobras: 'Você, Petrobras, fica em silêncio, nós continuamos a fazer negócio, e vamos nos manter calados'.
Pode-se dizer que Petrobras e SBM combinaram versões?
Claro, eles nunca quiseram mostrar tudo. Estão querendo fugir da palavra propina.
A SBM o acusa de chantagem.
Eu nunca extorqui a empresa. Busco uma compensação de 3,5 milhões de euros porque tive danos na carreira.