Juiz agora questiona vídeo que levou à nova prisão da cunhada de Vaccari
Após dizer que não havia 'margens para dúvidas', Sergio Moro pediu esclarecimento à polícia
Defesa de Marice diz que imagens do banco não mostram ela, mas sua irmã, a mulher do ex-tesoureiro petista
Após prorrogar a prisão da cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e afirmar que uma das provas contra ela "não deixava margem para dúvidas", o juiz Sergio Moro pediu para que a polícia esclareça o principal motivo que levou Marice Correa Lima a continuar presa: o vídeo de uma agência bancária.
Moro quer saber quem de fato aparece nas imagens, feitas em março, que mostram uma pessoa realizando depósitos na conta da mulher de Vaccari, Giselda de Lima.
Os procuradores a identificaram como Marice, e a acusaram de ter mentido em depoimento à polícia sobre nunca ter feito depósitos na conta de sua irmã Giselda.
Porém, segundo o advogado de Marice, Claudio Pimentel, quem aparece no vídeo é a própria Giselda, que se parece muito com a irmã.
Pimentel afirmou que irá apresentar documentos à polícia para provar que a mulher flagrada pelas câmeras não era a sua cliente.
Entre eles, uma declaração assinada por Giselda reafirmando que é ela quem aparece no vídeo fazendo depósitos em agências próximas à sua casa e ao seu trabalho.
Com a suspeita agora de que é Giselda quem, de fato, aparece nas imagens, o juiz Moro pede que o caso seja esclarecido "no período mais expedito".
"A questão é bastante relevante", afirma. "Se assim for, há uma alteração das premissas que levaram o MPF [Ministério Público Federal] a requerer a preventiva."
De acordo com o advogado Luiz Flávio D'Urso, que defende Vaccari, é Giselda quem administra o dinheiro recebido pelo marido. Os depósitos, portanto, são rotineiros. Vaccari saca dinheiro de sua conta e o transfere para a mulher.
"É um hábito que eles têm", disse D'Urso à Folha.
Segundo ele, todos os rendimentos do casal estão declarados. O advogado nega as acusações de que o ex-tesoureiro recebia propinas pagas em obras públicas.
Marice foi presa temporariamente no dia 17, dois dias após o mandato de prisão ter sido expedido. Após cinco dias, a prisão foi prorrogada por mais cinco, tendo como principal argumento o vídeo.
Para o Ministério Público, as imagens indicavam que Marice pagava à irmã, até março de 2015, "uma 'mesada' de fonte ilícita".
Segundo o órgão, Marice era uma "auxiliar de Vaccari para operacionalizar a propina destinada ao PT", e os depósitos à irmã seriam uma forma de lavar o dinheiro recebido de maneira ilegal.
A mulher de Vaccari recebeu R$ 583 mil em depósitos não identificados entre 2008 e 2014, diz a Procuradoria.
RECURSO
Com base na declaração de Giselda, a defesa de Marice pediu, na noite desta quarta (22), a revogação de sua prisão. A Justiça ainda não havia se manifestado até o fechamento desta edição.
A PF fará uma perícia das imagens e deve apresentar um laudo preliminar até o final desta semana.
Já o Ministério Público manteve seu posicionamento em favor da prisão da cunhada. Para o órgão, concluir que a mulher filmada se trata de Giselda, e não de Marice, é admissível "somente para argumentar".
Pocuradores dizem que a viagem de Marice ao Panamá, às vésperas de sua prisão, não foi totalmente esclarecida (ela diz que estava em um congresso). Dizem ainda que sua explicação sobre a origem dos recursos para comprar um imóvel em seu nome é "absolutamente fantasiosa".