Cunha levanta suspeita de fraudes para incriminá-lo
Presidente da Câmara demitiu chefe do setor de informática da Casa
Reações ocorreram após a Folha mostrar que registros eletrônicos de requerimentos suspeitos o citam como 'autor'
Após a Folha publicar que o nome "dep. Eduardo Cunha" aparece nos registros eletrônicos como autor de requerimentos investigados na Lava Jato, o peemedebista demitiu o chefe do setor de informática da Câmara citando uma possível fraude na área.
Alvo de inquérito sobre corrupção na Petrobras, o presidente da Câmara citou, em entrevista, uma suposta discrepância de datas relativas aos documentos suspeitos como indício de manipulação de dados para incriminá-lo.
A Folha apurou, porém, que o apontamento é uma mera característica do sistema, comum a outros documentos.
Cunha direciona sua suspeita ao Centro de Informática da Câmara, cujo diretor, Luiz Antonio Souza da Eira, ele demitiu nesta terça (28).
Eira não quis dar entrevista sobre o assunto. Disse que as áreas competentes da Câmara se pronunciariam.
"Estranhamente na semana passada eu determinei uma mudança na carga horária da área de TI (Tecnologia da Informação). Essa mudança [...] provocou uma revolta. O pessoal não estava cumprindo. Eu determinei [...] a mudança da carga horária na quinta e, de repente, 24 horas, 48 horas depois, aparece um documento Word. Então essas coisas têm que ser investigadas", afirmou Cunha.
O documento Word que ele cita é o software em que foram redigidos os requerimentos suspeitos. Esses documentos ganharam relevância devido à delação do doleiro Alberto Youssef na Lava Jato.
Youssef disse que, como forma de fazer pressão, Cunha chegou a apresentar requerimentos na Câmara para investigar uma fornecedora da Petrobras que teria parado de pagar propinas, a Mitsui.
À CPI, Cunha citou dois requerimentos de 2011 da ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), mas negou qualquer relação com o caso.
Apesar disso, a Folha detectou seu nome registrado no sistema eletrônico oficial da Câmara como "autor" dos requerimentos.
O presidente da Câmara respondeu que isso pode ter ocorrido porque ele oferecia seu gabinete a colegas.
CONVOCAÇÃO
Na sessão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras desta terça, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) pediu prioridade na aprovação de um requerimento de sua autoria para convocação da ex-deputada Solange Almeida. "Na matéria [da Folha], o presidente admite inclusive que o requerimento foi feito no gabinete dele. Só não foi autenticado no gabinete dele", afirmou.
O PSOL também tentará levar Cunha a depor novamente à CPI, embora não tenha força política para isso.