Petrolão
Executivo de empreiteira reconhece cartel
Ex-presidente da Camargo Corrêa admite em depoimento à Justiça que empresas dividiam contratos da Petrobras
Dalton Avancini diz que pagamento de propina era a 'regra' e estima em R$ 110 mi as comissões pagas pela Camargo
O ex-presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, reconheceu em interrogatório na Justiça Federal no Paraná nesta segunda (4) que havia um cartel de empreiteiras nas obras da Petrobras. "Realmente havia combinação das empresas e eu participei das negociações", disse, citando o caso do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio).
Segundo ele, nas reuniões ficou decidido que a Camargo só receberia contratos menores no Comperj porque a empreiteira já havia fechado um negócio de R$ 3,4 bilhões com a Petrobras na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
O executivo disse que participavam dessas reuniões, em que a divisão de obras era discutida, Odebrechet, UTC, OAS, Andrade Gutierrez, Techint, Promon, Queiroz Galvão e Toyo, liderados por Márcio Faria, da Odebrecht, e Ricardo Pessoa, da UTC.
Segundo Avancini, todas as empreiteiras que tinham contratos com a Petrobras pagavam subornos que beneficiavam o PT e o PP, partidos que indicaram as diretorias de Serviços e Abastecimento da estatal, respectivamente.
"A informação que tínhamos era que isso [propina] era regra", afirmou.
A Camargo admitiu ter pago R$ 110 milhões em comissões para conseguir os contratos das refinarias Abreu e Lima, Repar, no Paraná, e Revap, em São Paulo.
A propina era de 1% do valor do contrato, segundo ele.
O ex-diretor de Serviços Renato Duque, que está preso em Curitiba, e Paulo Roberto Costa, que ocupava a área de Abastecimento e foi solto após fechar um acordo de delação, eram os beneficiários dos repasses, ainda segundo o presidente da Camargo.
O ex-vice-presidente da Camargo Eduardo Leite disse que ficou sabendo que havia propina em contratos da Petrobras por meio de João Auler, então vice-presidente e atualmente presidente do conselho de administração da empreiteira, e de Leonel Viana, antigo diretor de óleo e gás. "Eu dei continuidade a algo que existia", afirmou.
Avancini e Leite fizeram um acordo de delação com procuradores da Operação Lava Jato e prometeram contar o que sabem em troca de uma pena menor. Auler, porém, não fez pacto semelhante.
Segundo Leite, o cartel elevava os ganhos das empresas. "Um cenário de menos competitividade é um cenário favorável [às empreiteiras]", declarou.
Ele afirmou que a empresa pagava propina porque a estatal poderia criar dificuldades na gestão do contrato, mas que os acionistas e o conselho de administração da empresa não sabiam disso.
Leite disse que não se via praticando crimes: "A gente achava que o criminoso estava do outro do balcão".
Ricardo Pessoa, da UTC, que negocia um acordo de delação, ficou em silêncio na audiência por orientação de seu advogado, Alberto Toron.