PT apoia ajuste após pressão do governo
Ministros foram acionados para persuadir deputados, mas ouviram críticas à articulação política de Dilma
Votação de pacote fiscal foi adiada para esta quarta; PMDB agora ameaça não aprovar medidas econômicas
Após forte pressão do Palácio do Planalto, o PT, partido da presidente Dilma Rousseff, decidiu apoiar oficialmente, somente na última hora, o pacote fiscal elaborado pelo governo para reequilibrar as contas públicas.
Reunida nesta terça (5), a bancada de deputados do partido, até então dividida, formalizou o apoio à principal iniciativa de Dilma no Congresso em seu novo mandato.
A Câmara ia votar uma das medidas do ajuste fiscal já nesta terça, mas a entrada na pauta da PEC da Bengala, que eleva a idade para aposentadoria compulsória dos ministros do Supremo Tribunal Federal, adiou a discussão para esta quarta (6).
Insatisfeito com a indefinição do PT e com os ataques feitos na TV pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à terceirização em programa do partido exibido nesta terça, o PMDB, principal aliado do governo, ameaça até não aprovar o ajuste fiscal.
Líder da bancada do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ) defende que os petistas "fechem questão" sobre o tema, abrindo brecha para punir os parlamentares do PT que votarem contra --algo que o Planalto não conseguiu fazer.
Foi preciso Dilma enviar quatro ministros do PT e um assessor especial à reunião da bancada para acabar com a divisão interna do partido que ameaçava a votação da MP 665, cujo ponto central é o endurecimento das regras para concessão do seguro-desemprego.
Hoje, os beneficiários precisam ter trabalhado ao menos seis meses para pedir o auxílio. O governo propôs a ampliação para 18 meses, mas o projeto já foi flexibilizado no Congresso, ficando em 12 meses.
REUNIÃO
Durante todo o dia, o debate sobre o pacote de Dilma --que restringe direitos trabalhistas, previdenciários e tributários-- ficou centrado no PT. Por volta das 12h30, os 64 deputados do partido se reuniram, mas o encontro foi suspenso cerca de duas horas depois por falta de acordo.
Na reunião, predominaram críticas a Dilma, à articulação política --chefiada pelo seu vice, Michel Temer (PMDB)-- e ao governo.
Avisado de que o PT ameaçava não apoiar o pacote, Temer alertou Dilma e o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) de que o PT colocava em risco a aprovação do ajuste.
Temer disse a Dilma que, neste caso, seria impossível convencer a base aliada a aprovar a medida, o que derrubaria o pacote fiscal do governo, pondo em risco a estabilidade da economia do país.
A avaliação de que a recusa em apoiar Dilma seria fatal para a presidente prevaleceu sobre o temor do desgaste de apoiar ações contra os trabalhadores. Isso porque outros partidos aliados ameaçavam uma debandada, caso o PT não apoiasse o projeto.
O PDT, que tem na cota o ministro do Trabalho, Manoel Dias, afirma que votará contra Dilma. O PC do B também ameaça tomar esse caminho.
"Vamos ver se o PT vai para a base [governista]. O PMDB seguirá o que o PT definir", ironizou o presidente da Câmara, o peemedebista Eduardo Cunha (RJ).
O presidente da CUT, Vagner Freitas, compareceu à reunião petista. "Não podemos ajustar contas do governo em cima dos direitos dos trabalhadores", afirmou Freitas, que é filiado ao PT.