Richa nega intenção de privatizar estatais
Governador tucano desautoriza secretário da Fazenda, que revelou estudos para vender ações da Copel e da Sanepar
Ideia era usar dinheiro para investimentos, mas governador prefere evitar controvérsia que pode ampliar desgaste
Chamado para conter a crise financeira do Estado, o secretário da Fazenda do Paraná, Mauro Ricardo Costa, propõe a venda de parte das estatais Copel, de energia elétrica, e Sanepar, de saneamento, com o objetivo de fazer caixa para investimentos.
A informação foi dada pelo jornal "Valor Econômico", nesta terça-feira (19), e confirmada à Folha pela Secretaria da Fazenda do Estado.
À tarde, o governador Beto Richa (PSDB) divulgou nota para negar a intenção de vender as estatais, desautorizou qualquer estudo nesse sentido e disse que essa é "uma opinião pessoal" do secretário.
"Continua intacto o meu compromisso de manter o Estado no controle acionário da Copel e da Sanepar", afirmou.
O projeto de venda da Copel e da Sanepar ainda está em estudos e seria apresentado ao governador em breve. A ideia era vender parte das ações do governo nas estatais, mantendo o Estado como o acionista majoritário.
A Copel é hoje a maior empresa do Paraná, com lucro de R$ 1,2 bilhão em 2014. O Estado tem 58% das ações com direito a voto na estatal.No caso da Sanepar, 75% das ações ordinárias estão nas mãos do Estado. A estatal lucrou R$ 422 milhões em 2014.
PROTESTOS
A venda de estatais é uma questão delicada na política paranaense: em 2001, o então governador Jaime Lerner tentou privatizar a Copel e foi alvo de protestos, inclusive com a invasão da Assembleia.
Richa, que enfrenta desde o início do ano uma onda de manifestações de servidores, viu a nova controvérsia aparecer justamente no dia em que cerca de 10 mil servidores realizaram um novo protesto contra o seu governo.
Os participantes marcharam pelo centro de Curitiba e carregavam cartazes perguntando "onde foi parar o dinheiro do Paraná". A estimativa de 10 mil participantes foi feita pela Polícia Militar. Para os organizadores, eram 30 mil.
Na semana passada, o governo anunciou que daria 5% de reajuste salarial para os servidores. O índice está abaixo da inflação acumulada desde o último aumento, 8%.
A notícia provocou reações dos sindicatos. O reajuste foi comunicado logo após a divulgação de uma denúncia de que a campanha de Richa à reeleição recebeu dinheiro desviado dos cofres públicos em 2014, o que ele nega.
Em greve há 22 dias, os professores estaduais se opuseram à proposta. Outros servidores se uniram ao grupo e ameaçam fazer greve geral.
"Estamos fazendo um esforço extraordinário para garantir esse índice", disse o chefe da Casa Civil, Eduardo Sciarra. Agora, o desafio será aprovar o reajuste na Assembleia Legislativa. Pressionados pela população, até mesmo os deputados aliados de Richa manifestam contrariedade em votar os 5%.