Com Lula, mas sem Marta, Haddad dá largada eleitoral

	Sergio Lima/Folhapress/BRASILIA, DF, BRASIL
	Haddad, Dilma e Lula durante posse dos novos ministros, ontem, no Palácio do Planalto

A presidente Dilma Rousseff e o antecessor Luiz Inácio Lula da Silva participaram ontem, no Palácio do Planalto, de solenidade que marcou a despedida do ministro que representa a principal aposta de ambos para as eleições de 2012.

Em concorrida cerimônia, o petista Fernando Haddad deixou a Educação, pasta que comandou por sete anos, para concorrer à Prefeitura de São Paulo.

A "pré-campanha" de Haddad começou, no entanto, com desfalques.

Preterida pelo partido para a disputa, a senadora Marta Suplicy (SP) não compareceu sob o argumento de que já tinha marcado suas férias.

Um dos principais nomes do PT em São Paulo, Marta foi a candidata do partido à prefeitura paulistana nas três últimas eleições.

VOLTA

A principal "estrela" da solenidade foi Lula, responsável por vencer as resistências internas na legenda e emplacar o nome de Haddad.

Ele apareceu para seu primeiro evento político após a descoberta de um câncer na laringe de chapéu e braços dados com Dilma. Foi recebido ao coro de "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula".

Mesmo sem discursar, foi aplaudido longamente em dois momentos, especialmente quando tirou o chapéu, exibindo a cabeça raspada por conta do tratamento. Atualmente, o ex-presidente passa por sessões diárias de radioterapia.

Lula também foi citado em todos os discursos.

Quando Dilma o recebeu, disse que "estava emocionada". Desde que deixou o cargo em janeiro de 2011, Lula só tinha retornado para o velório de seu vice José Alencar.

No discurso, a presidente se empenhou em justificar a presença de Lula dizendo que ele foi responsável por uma revolução na educação.

"Precisou vir um retirante do Nordeste (...), que não tinha curso universitário, para perceber que, para educar bem uma criança, um jovem, precisa de professor universitário bem formado."

A presidente também voltou a defender o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), um dos flancos de crítica à gestão de Haddad.

Segundo ela, o exame democratizou a educação, e os problemas detectados são normais no andamento de projetos. O governo enfrentou desgaste com vazamentos do conteúdo da prova e dados de estudantes, contestação de notas e resultados.

"Nós somos um governo de homens e mulheres, passível de cometer suas falhas", disse Dilma, que em seu longo discurso chegou a chamar Haddad de "Paulo Haddad".

Lula e Dilma tiveram encontro reservado de cerca de uma hora. Segundo interlocutores, conversaram sobre a reforma ministerial e os próximos passos da campanha.

DESCONFORTO

A possível insatisfação de Marta com Haddad não é a única causa de mal-estar no PT de São Paulo.

Houve desconforto de parte da legenda com a concentração de poder nas mãos de Aloizio Mercadante, que ontem assumiu a vaga de Haddad. Além de herdar a Educação, o petista indicou seu sucessor na Ciência e Tecnologia, Marco Raupp.

Mercadante é cotado para concorrer ao governo em 2014. Outros petistas que sonham com o Palácio dos Bandeirantes -como os prefeitos Emidio de Souza (Osasco) e Luiz Marinho (São Bernardo)- não foram à solenidade. Outro ponto diz respeito à irritação com a aproximação com o PSD do prefeito Gilberto Kassab, que ofereceu a Lula aliança para a eleição.

Mas o próprio Haddad tem mostrado seu incômodo. Embora seu aniversário coincida com o de São Paulo, o petista resistia à ideia de participar de coquetel oferecido por Kassab hoje na prefeitura. Ele alega ter se comprometido com a família. (MÁRCIO FALCÃO, CATIA SEABRA, FLÁVIA FOREQUE, SIMONE IGLESIAS E RENATO MACHADO)