Petrolão
CPI cogita exumar corpo de ex-deputado
Presidente de comissão diz ter recebido informações de que político ligado a doleiro e morto em 2010 estaria vivo
Viúva de José Janene afirma que proposta é um 'desrespeito'; filha diz ter ficado com o pai 'até o último suspiro'
A Comissão Parlamentar de Inquérito criada pela Câmara dos Deputados para investigar o esquema de corrupção na Petrobras apresentou nesta quarta-feira (20) uma proposta inusitada: ir à Justiça para pedir a exumação do corpo do ex-deputado José Janene, personagem central do esquema e morto em 2010.
O presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), afirmou que as suspeitas de que o ex-deputado do PP pudesse estar vivo foram levantadas pela viúva de Janene, Stael Fernanda. Horas depois do anúncio, a própria Stael disse que a proposta era "absurda" e um "desrespeito".
Motta disse ter recebido informações de interlocutores da viúva de que ela não teria certeza sobre a morte do marido. "A viúva disse que o caixão chegou lacrado e existem fortes indícios de que ele possa estar vivo", afirmou Motta, durante sessão da CPI. "Ninguém viu Janene morto."
Ele acrescentou que "ouviu falar" que o ex-deputado pode estar vivendo na América Central, mas não apontou a fonte das informações.
Diante da repercussão do caso e após receber críticas de outros integrantes da comissão, Motta recuou e afirmou que a comissão irá convocar a viúva antes de pedir a exumação. O requerimento de convocação dela, porém, ainda não foi aprovado.
Janene é apontado como um dos mentores do esquema de corrupção na Petrobras e o padrinho político do ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, um dos delatores da Operação Lava Jato. Amigo de Janene, o doleiro Alberto Youssef admitiu ter distribuído a ele e outros políticos do PP propina recolhida de empresas com contratos na Petrobras.
Janene também foi um dos réus do escândalo do mensalão, mas morreu dois anos antes do julgamento do caso no Supremo Tribunal Federal.
O ex-deputado morreu em setembro de 2010, por problemas cardíacos, aos 55 anos. Ele estava internado no Incor (Instituto do Coração), em São Paulo, e aguardava por um transplante de coração.
Foi o próprio Youssef quem assinou a certidão de óbito do ex-deputado. Segundo Danielle, filha de Janene, o doleiro era amigo da família e a acompanhou no reconhecimento e na liberação do corpo, ficando responsável pelos trâmites burocráticos.
Danielle afirma que acompanhou o pai "até o último suspiro". "Liberei o corpo e os documentos. O velório foi feito com o caixão aberto. Ele foi enterrado em uma túnica branca, de acordo com a religião muçulmana", contou.
A filha foi a primeira a criticar a proposta de exumação. "Esse trabalho [da CPI] perdeu a credibilidade, sinceramente", disse. "Acho que querem cinco minutos de fama."
OS VIVOS
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), outro integrante da CPI da Petrobras, criticou a proposta de exumação dizendo que a iniciativa tinha o objetivo de "tirar o foco das investigações de quem está vivo". O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) disse que a hipótese de Janene estar vivo lembra um "roteiro de novela".
O presidente da CPI insistiu em convocar a viúva mesmo assim. "Ela conseguindo provar esse fato [que ele está morto], não cabe à CPI, se a prova for contundente, estar alimentando essa história. Apenas trouxe um fato que entendo ser de relevante importância", disse Motta.