Petrolão
Registros oficiais minam versão de Cunha
Levantamento mostra que uso de senha pessoal do presidente da Câmara para redação de requerimentos é incomum
Operação Lava Jato investiga pedidos de informação que teriam sido utilizados para achacar empresas
Levantamento nos arquivos eletrônicos da Câmara dos Deputados coloca em xeque o argumento apresentado pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para negar sua relação com dois requerimentos de informação que teriam sido usados para achacar empresas fornecedoras da Petrobras.
A ligação do deputado com esses papeis é um dos principais elementos apontados pela Procuradoria-Geral da República para incluir Cunha entre os políticos suspeitos de participação no esquema de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato na estatal.
Os requerimentos foram apresentados na Câmara em 2011 pela então deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), correligionária de Cunha. Eles pediam às autoridades informações sobre contratos da Petrobras com a Mitsui.
O doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores da Lava Jato, disse à Justiça que os requerimentos foram apresentados a mando de Cunha e teriam o objetivo de pressionar um representante da empresa a retomar pagamentos de propina ao PMDB.
Cunha disse num primeiro momento que não tinha nada a ver com os requerimentos. Em abril, a Folha revelou que o nome "dep. Eduardo Cunha" aparece como autor dos arquivos de computador em que eles foram redigidos.
A partir de então, o peemedebista passou a dizer que assessores seus podem ter sido usados para redigir os documentos, já que seu gabinete era frequentemente requisitado por deputados do PMDB do Rio, especialmente novatos, como Solange na época.
Na semana passada, a Folha analisou todos os 443 requerimentos apresentados pelos 13 deputados do PMDB do Rio que exerciam mandato em 2011. Com exceção dos que o próprio Cunha apresentou e dos dois de Solange, nenhum outro exibe o nome do deputado como seu autor.
ASSESSORES
Na maioria dos casos, figura como autor do arquivos, normalmente produzidos no processador de textos Word, o ponto ou os nomes de assessores dos respectivos gabinetes. Em vários dos casos, o registro está em branco ou sem identificação individual, de acordo com o levantamento.
Cunha havia dito que uma assessora sua prestaria serviços nas comissões da Câmara para outros deputados do PMDB fluminense. Uma auxiliar de Cunha, Maria Claudia de Vasconcelos Batista Medeiros, aparece como autora de requerimentos de outros peemedebistas, mas sempre com o seu nome. Ou seja, usava o seu próprio ponto e senha para acessar o sistema.
A expressão "dep. Eduardo Cunha" só apareceria com o ingresso no sistema digital do ponto e da senha pessoal e intransferível de Cunha. O presidente da Câmara afirmou que passava sua senha para os assessores usarem.
Neste domingo (24), o jornal "O Globo" revelou que Cunha também aparece nos registros eletrônicos da Câmara como autor de um requerimento apresentado pelo deputado Áureo Ribeiro (SD-RJ) em 2011, um pedido de informações sobre uma licitação do Instituto Militar de Engenharia, ligado ao Exército.