Petrolão
Empresa omitiu informação sobre propina
CEO da holandesa SBM afirmou ao mercado, em agosto, que 'nada impróprio' havia sido encontrado no Brasil
Três meses antes, firma tinha sido informada por procuradores de seu país sobre provas de suborno na Petrobras
Uma gravação mostra que a SBM Offshore escondeu do mercado ter sido informada pelo Ministério Público da Holanda de que funcionários da Petrobras receberam propina vinda da empresa.
No dia 6 de agosto de 2014, a empresa holandesa divulgou o balanço financeiro do primeiro semestre do ano.
Ao falar do Brasil em "conference call", quando a cúpula fica à disposição do mercado para comentar o balanço, o CEO, Bruno Chabbas, informou que uma investigação interna não havia identificado irregularidades em relação aos contratos com a Petrobras.
"Nós não encontramos nada impróprio no Brasil", disse. "O mesmo foi feito pela Petrobras", ressaltou.
Participavam da reunião analistas de grupos prestigiados, como Morgan Stanley, UBS e ABN Amro.
A SBM omitiu que havia sido informada por procuradores holandeses, três meses antes, da descoberta de provas de que Julio Faerman, seu representante no Brasil, pagara propina a servidores.
Naquele mesmo mês, a SBM repassou a informação em sigilo à Petrobras, que informou então a CGU (Controladoria-Geral da União).
O CEO da empresa afirmou ainda que "questões políticas" do Brasil estavam em curso. Segundo ele, era importante colocar no "contexto" a "questão geral política que existe no Brasil e o distúrbio que isso pode criar".
Em 12 de novembro, após as eleições presidenciais, a SBM e o Ministério Público holandês anunciaram acordo em que a empresa pagou US$ 240 milhões como punição por pagamentos de propina no Brasil, em Angola e na Guiné Equatorial. Naquele mesmo dia, a CGU abriu processo contra a SBM.
A reunião de 6 de agosto revela que a empresa tinha previsão de US$ 240 milhões a serem gastos com algo ligado às investigações --ou seja, já teria ciência da multa, anunciada apenas em novembro.
Oficialmente, a SBM, que negocia acordo de leniência com o governo brasileiro, não admite até hoje o suborno. Argumenta que soube disso por procuradores holandeses.
A gravação foi entregue à CPI da Petrobras pelo ex-diretor da SBM Jonathan Taylor. À comissão, assim como havia dito à Folha, ele acusou SBM, CGU, Petrobras e autoridades holandesas de conluio para esperar as eleições presidenciais para agir.
OUTRO LADO
A SBM disse à Folha que a informação de que havia provas de propina não foi revelada ao mercado porque "não era suficientemente específica" à época da reunião.
Sobre o fato de o CEO Bruno Chabbas citar "questões políticas" no Brasil, afirmou que ele estava "meramente reconhecendo a sensibilidade do assunto, intensificado pelos debates políticos em curso no país no momento".