Vídeo aponta desinteresse por acareação
Em gravação de depoimento de doleiro, procuradores minimizam importância de confrontar versões de delatores
Durante o testemunho, Youssef sugere que ele e ex-diretor da Petrobras deponham juntos para esclarecer contradições
Procuradores da Operação Lava Jato mostraram desinteresse na realização de uma audiência para confrontar o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e tentar esclarecer as contradições existentes entre seus testemunhos sobre o esquema de corrupção descoberto na estatal.
Os procuradores manifestaram essa posição durante uma audiência em que o próprio Youssef sugeriu uma acareação com Costa. Os dois confessaram seus crimes e colaboram com as investigações.
Uma gravação da audiência, que ocorreu neste ano em data incerta, foi divulgada pelo jornal "O Estado de S. Paulo" nesta quarta (27).
Na gravação, Youssef afirma estar disposto a falar sobre as diferenças entre a sua versão e a de Costa para alguns episódios.
Em seguida, o procurador Andrey Borges reconhece que há contradições nos relatos sobre o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci e o senador Edison Lobão (PMDB-MA) e lembra que já houve tentativas de esclarecer as divergências, sem sucesso.
"Aí essas coisas a gente perguntou, reperguntou... Chega um ponto que também não dá para a gente também... Se não, a gente vai estar até pressionando o senhor", afirma Borges.
Em resposta, Youssef insiste: "Acho que Paulo [Roberto Costa] se equivocou, e se os doutores acharem necessário de a gente ter uma conversa juntos, eu, ele e os doutores"¦ Eu estou à disposição".
Outro participante da audiência, que não aparece na gravação e cuja voz a Folha não conseguiu identificar, comenta em seguida: "Esse é o tipo de coisa que, quanto mais mexe, pior fica. Se volta, muda, aí pronto... ". Outra pessoa completa: "É a teoria bosta seca: mexeu, fede".
No vídeo, Youssef parece desapontado e diz que estava lá para "dizer a verdade". Um participante da audiência lembra então que havia mais de uma dúzia de delatores no caso e que seria difícil fazer acareações entre eles.
Em seus depoimentos, Costa disse que autorizou Youssef a repassar R$ 2 milhões à campanha de Dilma Rousseff em 2010, a pedido de Palocci. O doleiro diz que não participou da campanha de Dilma e que não foi procurado por Palocci para tratar disso.
Costa disse ainda que mandou Youssef entregar R$ 2 milhões à campanha de Roseana Sarney ao governo do Maranhão em 2010, a pedido de Lobão, então ministro de Minas e Energia. O doleiro negou ter feito pagamentos à dupla.
Procurado, o procurador Andrey Borges negou desinteresse na acareação entre Youssef e Costa. "Nosso objetivo é chegar à verdade e não descartamos a acareação", disse.
Segundo ele, em geral as acareações são mais úteis para as investigações em fases mais adiantadas de apuração, quando há novas provas.