Petrolão
Atuação de empresas da Lava Jato em Belo Monte vira alvo do TCU
Decisão foi tomada após pedido do Ministério Público para apurar desvios no setor elétrico
Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e OAS integram consórcio que constrói usina
O TCU (Tribunal de Contas da União) vai iniciar uma investigação sobre recursos públicos usados na construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (PA), maior obra em andamento no país.
A decisão foi tomada após pedido do Ministério Público para que fosse analisada a participação de empresas investigadas na Operação Lava Jato, que apura desvios de recursos na Petrobras, também nas estatais do setor elétrico.
A obra de Belo Monte está estimada em cerca de R$ 33 bilhões, segundo o órgão. A maior parte dos recursos para a construção viria de financiamento do BNDES --ao menos R$ 22,5 bilhões.
O ministro José Múcio Monteiro, responsável pelo processo no TCU, considerou que o fato de as empresas que formam o consórcio que constrói a hidrelétrica estarem sob investigação é motivo para o início de uma auditoria do tribunal nesse contrato.
Outro problema apontado foi o alto custo da construção da usina, 74% superior ao previsto inicialmente, que poderia estar inviabilizando um retorno financeiro para as estatais que investem no projeto.
A análise prévia do TCU mostrou que essas empresas também estão em outros projetos do setor elétrico além de Belo Monte. Mas o trabalho apontou que não há um risco sistêmico para o setor já que a maior parte dos empreendimentos sob responsabilidade destas empresas está próxima da conclusão.
Segundo Monteiro, a abertura da investigação em Belo Monte não ocorreu por causa de alguma delação referente ao processo, mas sim devido à situação atual das construtoras que tocam a obra.
Um dos delatores da Lava Jato, o executivo da Camargo Corrêa Dalton Avancini, afirmou que o esquema de desvios de valores da Petrobras se estendeu ao setor elétrico.
De acordo com o ministro, o trabalho de investigação em Belo Monte começa do zero, e a torcida é para que nenhuma irregularidade seja encontrada. "Mas não custa nada dar uma reparada [olhada] lá", disse Monteiro.
CONSÓRCIO
A empresa responsável por Belo Monte é a Norte Energia, formada primordialmente por fundos de pensão (Petros e Funcef) e estatais do setor elétrico (Eletrobras, Chesf, Eletronorte, Cemig e Light). Ela ganhou o leilão desse projeto e ficou responsável por construir e operar a usina.
Essa companhia contratou um consórcio de construtoras, chamado CCBM (Consórcio Construtor Belo Monte), para erguer a hidrelétrica que será a terceira maior do mundo. Esse consórcio tem como líder a Andrade Gutierrez, seguido por Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, OAS e outras cinco empreiteiras.
Todas essas empresas citadas são alvo da Lava Jato e já tiveram executivos presos durante a operação. A Folha entrou em contato com a assessoria do CCBM, mas até a conclusão desta edição não havia resposta.