Petrolão
Condenar sem ter provas é 'um tanto Idade Média', afirma Dilma
Nos EUA, presidente critica o que chamou de 'vazamento seletivo' das informações da Lava Jato
Petista diz que 'não demite nem nomeia pela imprensa' ao falar de ministros citados por delator
Um dia depois de igualar os delatores da Operação Lava Jato a presos políticos que traíram os companheiros sob tortura na ditadura militar, a presidente Dilma Rousseff comparou as investigações sobre corrupção na Petrobras a processos medievais.
Em entrevista na Casa Branca ao lado do presidente americano, Barack Obama, Dilma criticou o que chamou de "vazamento seletivo" das apurações e disse que as provas precisam ter fundamentos, e não simplesmente ilações. "Isso é um tanto quanto Idade Média", disse.
Foi uma nova referência às acusações feitas em acordo de delação premiada pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, nas quais ele confessou ter pago propina para fazer negócios com a Petrobras e relatou encontros em que discutiu contribuições políticas com os ministros Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, e Edinho Silva, da Secretaria de Comunicação Social.
Indagada se pretende manter Mercadante e Edinho no cargo, Dilma disse que não demite nem nomeia ministros pela imprensa. "O governo brasileiro não tem acesso aos autos, estranhamente, há um vazamento seletivo e alguns têm acesso", disse.
"Aqueles que são mencionados não têm como se defender porque não sabem do que são acusados", criticou.
Dilma também fez uma enérgica defesa da Petrobras. "Alguns funcionários cometeram atos de corrupção e o MP e a PF os investigam e os processam", disse Dilma.
Na véspera, em Nova York, Dilma já havia feito críticas ao andamento da Operação Lava Jato e ao instituto da delação premiada, ao comparar as delações do caso com as obtidas sob tortura na ditadura militar.
"Eu não respeito delator, até porque estive presa na ditadura militar e sei o que é."
Militante de grupos de esquerda que defendiam a luta armada contra a ditadura, Dilma foi presa e torturada por militares e ficou na cadeia por quase três anos, até 1972. Ao explicar por que não respeita delatores, Dilma se referiu a Joaquim Silvério dos Reis, que denunciou a Inconfidência Mineira no século 18.
BARBOSA
A frase de Dilma foi criticada pela oposição e pelo ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e que relatou o processo do mensalão, Joaquim Barbosa.
Em sua conta no Twitter, ele disse que a Constituição "não autoriza o Presidente a 'investir politicamente' contra as leis vigentes, minando-lhes as bases". "Caberia à assessoria informar a Presidente que: atentar contra o bom funcionamento do Poder Judiciário é crime de responsabilidade!", afirmou.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu a fala de Dilma. Para ele, "um delator pode falar verdades, meias verdades ou mentiras".
"Qualquer pessoa que tem a honestidade intrínseca que Dilma Rousseff tem reage com indignação", disse o ministro. "É a reação legítima daqueles que são honestos." (PATRÍCIA CAMPOS MELLO, RAUL JUSTE LORES, GABRIELA GUERREIRO e NATÁLIA CANCIAN)