Petrolão
PF foi truculenta e arbitrária, diz Collor
Cúpula do Senado endossou críticas do ex-presidente; Renan, que preside a Casa, também é alvo da Lava Jato
Em 1992, Renan abandonou o então aliado e engrossou o movimento pelo impeachment de Collor
Um dos principais alvos da ação desta terça (14) da Operação Lava Jato, Fernando Collor de Mello (PTB-AL) disse da tribuna do Senado que a Polícia Federal usou de "truculência" e extrapolou "todos os limites" da legalidade.
Com o apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que momentos antes havia lido uma nota da cúpula da Casa em repúdio à PF, o ex-presidente da República (1990-1992) disse que ele e sua família passaram por constrangimento e humilhação com a busca e apreensão em seus imóveis em Brasília.
"Fui submetido a um atroz constrangimento. Fui humilhado. Depois de tudo que passei em minha vida política, tive de passar por uma situação jamais por mim experimentada. Extremo desgaste emocional, mental e físico junto com minha família. Portanto, constrangido fui. Humilhado também fui. Mas podem ter certeza que intimidado jamais serei."
Além de terem o mesmo reduto eleitoral, o Estado de Alagoas, Collor e Renan –que também é alvo de inquérito na Lava Jato– foram aliados na ascensão do primeiro ao Palácio do Planalto. Rompido com Collor posteriormente, Renan acabou engrossando o movimento pelo impeachment do ex-aliado, em 1992.
A fala pública dos dois contra a PF foi precedida por uma reunião entre ambos por mais de duas horas no gabinete de Renan, nesta terça.
Na tribuna, Collor afirmou que a Polícia Federal, sob o comando do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, invadiu a "soberania de um Poder da República".
O senador classificou a operação policial de "invasiva" e "arbitrária" e reagiu, em especial, à apreensão de carros de luxo –uma Ferrari vermelha, um Porsche preto e um Lamborghini prata– na Casa da Dinda, um de seus imóveis. No discurso, Collor disse que todos os carros foram declarados e adquiridos antes das investigações da Lava Jato. Na declaração de bens dele de 2014 só aparece a Ferrari, no valor de R$ 556 mil.
Ele afirmou que ainda mostrará a "face obscura" do Ministério Público. "É ou não é uma tentativa de imputação prévia de culpa, sordidamente encomendada pelo senhor Janot?", questionou.
Também alvo da busca e apreensão desta terça, o senador Fernando Bezerra (PSB-PE) participou normalmente da sessão na Casa.
VIOLÊNCIA
Antes da fala de Collor, Renan acusou a PF de "invasão", disse que os métodos usados "beiram a intimidação" e foram uma "violência" à democracia. "Buscas e apreensões sem a exibição da ordem judicial e sem os limites das autoridades que a estão cumprindo não é busca e apreensão. É invasão", dizia a nota lida por Renan e assinada pelos membros da Mesa Diretora do Senado.
O chefe da Polícia Legislativa, Pedro Araújo, diz que uma resolução do Senado obriga a PF a se reportar à corporação quando for entrar em prédios da instituição.
A PF afirmou que as buscas e apreensões foram determinadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
A Procuradoria-Geral da República negou qualquer irregularidade e disse que a atuação da Polícia Legislativa se restringe à Casa. "Os imóveis funcionais do Senado não são considerados extensão das dependências da Casa Legislativa, que, ao contrário daqueles, é de livre acesso a todos os cidadãos", diz a nota da Procuradoria.