Advogada de delatores diz que foi intimidada por CPI
Beatriz Catta Preta fechou escritório e abandonou processos da Lava Jato
Criminalista afirmou ao 'Jornal Nacional' que pressão aumentou depois que seu cliente acusou Eduardo Cunha
Responsável por firmar nove acordos de delação premiada de réus da Operação Lava Jato, a advogada Beatriz Catta Preta disse ao "Jornal Nacional" nesta quinta (30) que deixou o caso e decidiu abandonar a advocacia porque se sentiu ameaçada.
"Depois de tudo o que está acontecendo, e por zelar pela minha segurança e a dos meus filhos, decidi encerrar minha carreira", afirmou.
Segundo ela, a pressão aumentou após um de seus clientes, o lobista Julio Camargo, mencionar em depoimento que pagou US$ 5 milhões em propina ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Vamos dizer que [depois do depoimento de Julio Camargo] aumentou essa pressão, aumentou essa tentativa de intimidação a mim e à minha família", disse.
"Não recebi ameaças de morte, não recebi ameaças diretas, mas elas vêm de forma velada", completou.
Questionada sobre a origem das supostas tentativas de intimidação, Catta Preta respondeu que elas vinham de integrantes da CPI da Petrobras que votaram a favor de sua convocação para prestar depoimento. Disse também que não podia afirmar se Cunha integrava esse grupo.
Sobre os rumores de que teria recebido R$ 20 milhões por seus honorários na Lava Jato, Catta Preta afirmou que o número é "absurdo". "Não chega perto da metade disso." A advogada explicou que os pagamentos foram feitos no Brasil com emissão de nota fiscal.
A criminalista negou ainda que tenha cogitado mudar de país. Ela disse que passou o último mês nos Estados Unidos de férias com a família.
RENÚNCIA
Catta Preta decidiu renunciar a todas as defesas que conduzia nas ações da Lava Jato na segunda (20), poucas semanas depois que Camargo acusou Cunha.
Desde então, a criminalista tornou-se alvo de aliados do peemedebista no Congresso. O deputado Celso Pansera (PMDB-RJ) apresentou dois requerimentos convocando a advogada à CPI.
Na entrevista ao "Jornal Nacional", a criminalista disse que seu cliente não mencionou Cunha anteriormente porque tinha "receio". "Ele tinha medo, mas assumiu o risco", afirmou.
O presidente da Câmara comentou a entrevista de Catta Preta pelo Twitter. "Reitero que não tenho qualquer interferência na CPI, desconhecia a sua convocação que se deu com certeza antes do delator mudar a sua versão."
Nesta quinta, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, liberou a advogada para ficar em silêncio na CPI.