Petrolão
Preso de novo, José Dirceu é acusado de liderar esquema
Procurador diz que ex-ministro petista é responsável por desvios na Petrobras
Cumprindo pena pelo mensalão em regime de prisão domiciliar, Dirceu pode ser levado para cela em Curitiba
Preso pela Polícia Federal em nova fase da Operação Lava Jato, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi apontado nesta segunda-feira (3) pelo Ministério Público Federal como um dos responsáveis pela criação do esquema de corrupção na Petrobras.
"Chegamos a um dos líderes principais, que instituiu o esquema, permitiu que ele existisse e se beneficiou dele", disse o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos responsáveis pelas investigações.
Homem forte do início do governo Lula, Dirceu foi preso em Brasília, onde cumpria pena em regime domiciliar por seu envolvimento com o esquema do mensalão. Condenado a 7 anos e 11 meses de prisão em 2012, ele passou quase um ano na cadeia até a mudança de regime.
Ele deve ser transferido nesta terça (4) para Curitiba, onde se concentram as ações do caso. A operação foi batizada pela PF de Pixuleco, termo que teria sido usado pelo ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto para falar de propina.
Os procuradores da Lava Jato apontam Dirceu como responsável pela indicação do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, que foi responsável pela negociação de contratos de obras da Petrobras de 2003 a 2012 e é acusado de cobrar propina dos fornecedores da estatal.
O procurador Lima afirmou que o esquema de corrupção na Petrobras reproduziu características do mensalão, porque parte do dinheiro abasteceu políticos do PT e de outros partidos governistas. "O DNA é o mesmo: compra de apoio partidário", disse.
Para ele, o esquema foi "sistematizado" no governo Lula. Questionado se o ex-presidente também seria investigado, Lima disse que "nenhuma pessoa no regime republicano está isenta de ser investigada".
AMEAÇA À ORDEM
O juiz Sergio Moro, que conduz as ações da Lava Jato no Paraná e mandou prender Dirceu em caráter preventivo, justificou a medida argumentando que ele representava uma ameaça à ordem pública.
Segundo os procuradores, Dirceu recebeu propina de fornecedores da Petrobras, e alguns pagamentos foram feitos depois de sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal e quando ele estava preso. Moro considerou isso sinal de desrespeito à Justiça.
Além do ex-ministro, também foi detido preventivamente nesta segunda o lobista Fernando Moura, acusado de ter cobrado propina de empresas em nome do petista.
Outras seis pessoas foram presas, incluindo o irmão de Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, que trabalhava com ele em sua firma de consultoria e o assessor Roberto Marques, que acompanha o petista desde a década de 80.
As acusações apresentadas contra Dirceu são sustentadas principalmente por depoimentos do lobista Milton Pascowitch, que ajudou a aproximar a empreiteira Engevix do PT e da Petrobras e fez acordo para colaborar com as investigações em junho.
Pascowitch disse que repassou R$ 3,8 milhões em propina a Dirceu, incluindo pagamentos à sua consultoria, reformas no apartamento de seu irmão em São Paulo e numa casa em Vinhedo (SP), onde Dirceu morava antes de começar a cumprir pena pelo mensalão, e a compra de um imóvel de uma das suas filhas.
A consultoria de Dirceu, aberta depois que ele deixou o governo em meio à crise do mensalão, faturou R$ 39 milhões até fechar as portas, neste ano. Empresas investigadas pela Lava Jato pagaram R$ 9,5 milhões ao ex-ministro.
Para os procuradores e o juiz Moro, esses pagamentos são repasses de propina, porque não há prova de que os serviços de consultoria descritos nos contratos de Dirceu tenham sido de fato prestados.
Pascowitch apontou também pagamentos de propina que teriam sido feitos por três empresas que prestam serviços para a Petrobras, Hope, Personal Service e Consist. Segundo ele, a Hope pagava R$ 500 mil por mês, incluindo comissões a Dirceu, Duque e Fernando Moura. (ESTELITA HASS CARAZZAI E GRACILIANO ROCHA)