Lobista preso teve atuação de destaque no caso do mensalão
Acusado agora de receber R$ 5,3 mi, Fernando Moura submergiu após seu nome surgir no escândalo de 2005
Apontado como sócio de Dirceu na divisão de propinas, ele tinha muita influência dentro da Petrobras, diz PF
A nova prisão do ex-ministro José Dirceu trouxe de volta à cena um personagem que havia submergido há dez anos, quando eclodiu o escândalo dos Correios, o marco-zero do mensalão. Trata-se do lobista Fernando Moura, apontado agora pela Polícia Federal como uma espécie de sócio de Dirceu na divisão de propinas.
O sumiço depois de 2005, quando passou a viver entre Miami e São Paulo, não significou que Moura deixou de operar nos bastidores.
Ao decretar a prisão dele nesta segunda (3), o juiz Sergio Moro citou que ele recebeu propinas que somam R$ 5,3 milhões em 2009 e 2010 por contratos fechados entre a empresa Engevix e a Petrobras.
Outra empresa investigada na Operação Lava Jato, a Hope, que fornece mão de obra terceirizada para a estatal petroleira, pagava R$ 180 mil mensais a Fernando Moura.
Todas as acusações contra Moura são baseadas em depoimentos e documentos fornecidos pelo também lobista Milton Pascowitch, responsável por aproximar a Engevix do PT e que se tornou delator após ter sido preso.
Moura acompanha Dirceu desde 1986, quando o dirigente petista foi eleito deputado estadual em São Paulo.
Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência, em 2002, ele passou a atuar em dupla com Silvio Pereira, secretário-geral do PT à época e um dos responsáveis por colher indicações para cargos em estatais como a Petrobras –Pereira também era tido como um personagem da órbita de Dirceu.
Renato Duque, hoje preso, chegou à diretoria de Serviços da Petrobras por indicação de Moura, de acordo com a Polícia Federal.
Empresários da área de petróleo afiram que Moura inicialmente criou um bloqueio à empresa GDK na Petrobras. Tempos depois, mudou de comportamento e ajudou a mesma GDK a conseguir mais contratos com a estatal.
O jipe Land Rover que Pereira ganhou da GDK era uma gratificação por essa ajuda. Com a descoberta de que ganhara um automóvel de uma contratada da Petrobras, Pereira desfiliou-se do PT.
Moura tinha tanto poder dentro da Petrobras que a GDK chegou a fechar um contrato para reformar uma plataforma sem preencher um requisito básico da estatal: fazer parte do cadastro de empresas que podem prestar esse tipo de serviço à petroleira.
Moura também é apontado como o responsável pela aumento dos contratos com duas empresas que fornecem mão de obra terceirizada à Petrobras: a Hope e a Personal.
As duas empresas pagaram propina a Dirceu e a Moura, ainda segundo Pascowitch.
Moura usou um irmão, o filho e a filha para receber R$ 5,3 milhões. Os valores aparecem como doações nas declarações à Receita Federal.
A Folha não conseguiu localizar o advogado de Moura.