Lava Jato apura suspeitas de corrupção no Planejamento
PF detectou pagamentos de R$ 7,2 mi a escritório ligado a Gleisi e ao PT
Operação acendeu o sinal amarelo no Planalto porque, pela 1ª vez, investigações chegam à Esplanada
Em uma operação para apurar suspeitas de corrupção no Ministério do Planejamento, a Operação Lava Jato detectou pagamentos de R$ 7,2 milhões, sem justificativa aparente, a um advogado eleitoral próximo do ex-titular da pasta Paulo Bernardo e da mulher dele, a senadora Gleisi Hoffmann, ambos do PT paranaense.
Os nomes dos dois não foram citados por investigadores nem pelo juiz Sergio Moro, mas a nova fase da Operação Lava Jato acendeu o sinal amarelo no Planalto porque as investigações chegam, pela primeira vez, à Esplanada dos Ministérios.
Antes, segundo destacou um auxiliar da presidente Dilma Rousseff, as investigações concentravam-se somente em em estatais, como a Petrobras e a Eletronuclear.
Responsável pela coordenação jurídica das campanhas de Gleisi e de Paulo Bernardo, o advogado Guilherme Gonçalves recebeu os pagamentos da Consist, grupo de tecnologia com contratos com a Petrobras e prestadora de serviços na área de crédito consignado.
Os pagamentos suspeitos começaram após a assinatura de acordo de cooperação técnica entre a Consist, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC), o Sindicato das Entidades Abertas de Previdência Privada (Sinapp) e o Planejamento, em 2010 –quando a pasta era comandada por Paulo Bernardo. Não houve licitação.
Após o aval do Planejamento, a Consist assinou um contrato com as duas entidades e disponibilizou um sistema informático de gestão de margem consignável da folha de pagamento de 2 milhões de servidores federais.
Após a deflagração da operação, nesta quinta (13), o ministério anunciou o fim do acordo com ABBC e Sinapp.
Entre 2010 e 2015, a Consist realizou pagamentos de R$ 52 milhões a empresas de consultoria, informática e advocacia. A suspeita é que os serviços não tenham sido prestados.
Segundo a Procuradoria, a maior parte desse dinheiro abasteceu ilegalmente o caixa controlado pelo tesoureiro afastado do PT João Vaccari Neto, preso desde abril.
Batizada de "Pixuleco 2" (termo que se refere a propina), a nova fase da Lava Jato prendeu o ex-vereador de Americana (SP) Alexandre Romano (ex-PT), suspeito de intermediar pagamentos da Consist a Vaccari. Houve buscas em empresas e escritórios de advocacia de Curitiba, São Paulo e Porto Alegre.
O outro operador da Consist é Milton Pascowitch, lobista que aproximou a Engevix do PT e se tornou delator.
AMIGO PRÓXIMO
No meio jurídico de Curitiba, Guilherme Gonçalves é conhecido como "Guilherme do PT" –além de advogar para Gleisi e Bernardo, ele é filiado à legenda desde 1989.
Apesar da ligação com a sigla e da cartela recheada de petistas, que inclui o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro José Dirceu –também preso na Lava Jato–, Gonçalves presta atendimento para diversos partidos. O senador Roberto Requião (PMDB-PR) e o deputado estadual Ratinho Jr. (PSC-PR) são outros que se utilizam de seus serviços com frequência.
Ele também advoga para a Itaipu Binacional, a quem faz "consultoria eleitoral", e para o Diretório Nacional do PT.