Outro lado
Peemedebista acusa governo de estimular acusações contra ele
Cunha afirma que Planalto tenta retaliar sua atuação política e que não participa de 'qualquer acordão'
Denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusou nesta quinta (20) o governo de estar por trás das denúncias que o envolvem em crimes investigados na Lava Jato.
Como a Folha antecipou nesta quarta, Cunha afirmou, em nota divulgada após a apresentação da denúncia, que ''não participa de acordão'' e disse ter sido "escolhido para ser investigado".
Cunha atribui ao Palácio do Planalto uma operação para ''derrubá-lo'' e tentar salvar seus aliados, como petistas e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Tanto petistas quanto Renan são investigados na Lava Jato, mas não foram incluídos neste primeiro rol de denúncias da Procuradoria.
"Não participei e não participo de qualquer acordão e certamente, com o desenrolar, assistiremos à comprovação da atuação do governo, que já propôs a recondução do Procurador, na tentativa de calar e retaliar a minha atuação política".
Denunciado, ele manterá a estratégia de centrar fogo no PT e no governo, mas evitará novos confrontos com Rodrigo Janot. Sobre retaliações ao governo, repete que não haverá ''nada diferente e nada de novo''. Desde que assumiu a presidência da Câmara, em fevereiro, Cunha tem imposto derrotas ao Planalto.
A aliados, o peemedebista nega que avançará em um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O PT vai discutir o afastamento de Cunha da presidência. Nesta quinta, o presidente do partido, Rui Falcão, disse ser um "fato gravíssimo a denúncia de um dos presidentes de uma das casas do congresso". O peemedebista já disse que não deixará o cargo.
"Receber apoio do PT é que seria estranho. Eles pedirem minha saída pode levar à antecipação da saída mesmo, mas é a do PMDB do governo'', ironizou Cunha, que reuniu cerca de 30 deputados em seu gabinete para ler a denúncia e soltar uma nota.
No texto, ele disse estar ''absolutamente sereno'' com as denúncias a seu respeito.
"Sou inocente e com essa denúncia me sinto aliviado, já que agora o assunto passa para o Judiciário", destacou.
A primeira versão da nota foi redigida ainda na quarta. Para mostrar força e apoio político, o peemedebista chamou líderes do DEM, PSDB, e do próprio PMDB para debater as acusações contra ele.
O líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), era contra a menção de um ''acordão'' do governo com a Procuradoria na nota. Cunha quis esperar a relação de nomes incluídos na denúncia para decidir se manteria ou não o termo.
Como não houve petistas nem Renan Calheiros no primeiro rol de denunciados, Cunha manteve o roteiro original. Só divulgou a nota, no entanto, após aval do seu advogado Antonio Fernando de Souza, ex-procurador-geral.
O defensor vem aconselhando Cunha a evitar confronto com Rodrigo Janot. Desde que foi incluído na lista de políticos investigados, em março, o presidente da Câmara declarou guerra ao procurador-geral.
Procurada, Solange Almeida afirmou que não esperava ser denunciada, mas não quis comentar a decisão do Ministério Público.
"Não tenho nada a declarar", disse.