Petrolão
Collor é acusado de corrupção e lavagem
Senador teria cometido mais de 300 práticas criminosas; grupo ligado a ele teria recebido R$ 26 milhões em propina
Assim que virou alvo da Lava Jato, ex-presidente deu início a uma cruzada pública contra Rodrigo Janot
O ex-presidente Fernando Collor, senador pelo PTB de Alagoas, foi denunciado pelo Ministério Público Federal ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quinta-feira (20) por suposta participação no esquema de corrupção na Petrobras. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou ainda o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-ministro no governo Collor.
Caberá agora aos ministros do Supremo decidir se acolhem ou não a denúncia. Caso seja aceita, eles se tornarão réus em uma ação penal.
Conforme a Folha apurou, as investigações apontam que o senador teria cometido mais de 300 práticas criminosas e, agora, pesam sobre ele as acusações de corrupção e lavagem de dinheiro.
O material, protocolado no Supremo às 15h40 desta quinta (20), não é público. Segundo a Procuradoria, o texto contém trechos de depoimentos sigilosos e, por isso, não pode ser divulgado.
Desde a abertura de inquéritos contra as autoridades investigadas pela Operação Lava Jato, em março, o caso de Collor era considerado um dos que continham provas mais robustas.
A Polícia Federal encontrou comprovantes de depósitos do doleiro Alberto Youssef para o senador. As transferências somam R$ 50 mil.
Além disso, Rafael Ângulo, que trabalhava com Youssef, afirmou ter entregado R$ 60 mil pessoalmente a Collor.
O decorrer das investigações revelou que o grupo do parlamentar alagoano teria recebido R$ 26 milhões, entre 2010 e 2014, como consta na denúncia entregue ao STF, segundo apurou a Folha.
Os valores em suborno, segundo os investigadores, eram referentes a contratos firmados entre empresas privadas e a BR Distribuidora, subsidiária da estatal em que parte da diretoria fora indicada pelo ex-presidente.
Collor deu início a uma cruzada pública contra Rodrigo Janot assim que se tornou alvo da Lava Jato.
Por diversas vezes, o congressista usou as sessões no Senado para acusá-lo de fazer chantagem, intimidação, além de vazar seletivamente elementos da investigação.
Num dos momentos mais emblemáticos, Collor referiu-se ao procurador como "filho da puta", em discurso no plenário, no dia 5 de agosto.
O xingamento, captado pelo microfone do púlpito, ocorreu vinte dias após a Polícia Federal apreender três carros de luxo na Casa da Dinda, famosa residência do senador em Brasília desde a época em que ele era presidente da República (1990-1992).
Também denunciado, Pedro Paulo Leoni foi secretário de Assuntos Estratégicos, cargo com status de ministro, durante o governo Collor.
Ele foi apontado pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, como intermediário da propina ao ex-presidente. De acordo com o empresário, Leoni transportava o dinheiro, em espécie, dentro de sacolas e mochilas. (GABRIEL MASCARENHAS, MÁRCIO FALCÃO E RUBENS VALENTE)